Crescimento poderia ser maior se não houvesse gargalos no caminho da lavoura até o porto. Brasil deve exportar 15 milhões de toneladas neste ano.A receita do Brasil com a exportação de milho cresceu este ano 192% e poderia ter crescido mais se a produção não tivesse que passar por tantos gargalos na viagem da lavoura até o porto.
Quem vê de longe uma colheitadeira na lavoura de milho, não imagina a operação complexa que está por trás dessa tarefa. O agricultor Argino Bedin cultivou 13 mil hectares de milho, na segunda safra, em sua fazenda no norte de Mato Grosso. Ele espera colher 100 mil toneladas do cereal e, para as máquinas não pararem, o planejamento é cuidadoso.
“Cada colheitadeira tem um transbordo, que a máquina não pára de colher. A colheitadeira descarrega nos transbordos, que descarrega nos caminhões, que são todos rodotren basculantes. Depois vai até o armazém, pesa, descarrega e volta para a lavoura. É jogo rápido aqui”, explica o agricultor.
Argino Bedin começou a colher o milho no início de junho, antes mesmo que a lavoura atingisse o ponto ideal. Ele tomou essa decisão para aproveitar a disponibilidade de caminhões pra fazer o transporte.
Mesmo assim, quando a colheita chegou ao pico, o agricultor começou a ter problemas. A exportadora com a qual ele tem contrato suspendeu a retirada do milho na fazenda na primeira quinzena de julho. O carregamento no porto tinha sido interrompido por causa da chuva e de protestos nas estradas. Isso provocou um atraso de nove dias na colheita.
Este ano, a previsão é que 70% da colheita seja para o mercado externo. Só que os desafios para cumprir essa meta são enormes. Nos últimos três anos, o estado do Mato Grosso conviveu com situações como milho colocado a céu aberto por falta de armazéns e de caminhões para o transporte. Este ano, as cenas voltaram a se repetir na região de Sinop.
As estradas são outro gargalo. De Sorriso a Cuiabá, boa parte da BR-163 é de pista simples. “Estou há quase 20 minutos atrás de um caminhão e não consigo fazer uma ultrapassagem porque a estrada não ajuda. Por isso acontece muito acidente com morte na rodovia”, afirma o caminhoneiro Délcio Kappes. Ele faz uma rota que sai de Sorriso e desce pela BR163, passa por Cuiabá, Rondonópolis, desce para Campo Grande e segue até a divisa do estado de São Paulo.
Viagem até o porto
A carreta entra no estado de São Paulo na altura de Presidente Epitácio, segue pelo sudoeste até Ourinhos e depois chega ao município de Sumaré, onde a empresa exportadora aluga um entreposto para armazenar os grãos.
O milho fica depositado no local à espera da autorização para descer pro porto. Só que o descarragamento às vezes é demorado. “Tenho agora 60 caminhões na minha frente e mais um equipamento que está quebrado, três dias é a previsão que me deram”, explica Délcio Kappes.
De Sumaré, o milho segue de novo por rodovia direto para o porto. No total, desde que saem de Sorriso, em MT, até Santos, os caminhões rodam cerca de dois mil quilômetros.
No porto de Santos, há onze terminais que operam com grãos. No mês de julho, como choveu muito e os embarques foram suspensos, os depósitos ficaram lotados.
Alexandre Moura é diretor da exportadora que comprou o milho de Argino lá de Mato Grosso. Ele diz que o custo de todos os entraves nesse caminho é de responsabilidade da empresa. E isso acaba influenciando no preço final do produto.
“No caso do milho, o frete representa uma parcela até maior do que o próprio custo do produto. Hoje a gente tem um custo de R$ 17 pra chegar no porto de Santos, com mais R$ 11 do preço do milho, então a gente chega com R$ 28”, explica Alexandre Moura, gerente de portos da Tranding. Ou seja, no caso do milho, o preço do frete é bem maior que o valor da saca na origem.
Um navio de bandeira das Ilhas Marshal vai levar 33 mil toneladas de milho para Tunísia. A equipe de reportagem foi autorizada a mostrar como é feito o carregamento. As esteiras fechadas trazem o produto dos silos. Todo o embarque dos grãos é feito com os porões abertos, por isso é tão importante que o tempo esteja firme. Este navio precisou esperar 21 dias para atracar no porto de Santos.
Com o clima seco desta semana, foi possível encher em 54 horas os cinco porões, distribuídos em 190 metros de navio. A previsão é desembarcar essa carga de milho na Tunísia, no continente africano, até o dia 20 de agosto. O Brasil deve exportar 15 milhões de toneladas de milho este ano.