A Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar analisou por uma década estudantes do 9° Ano do ensino fundamental em todo o País. Dentre os tantos indicadores apontados, foi constado o aumento no consumo de entorpecentes, lícitos e ilícitos, em membros desse grupo em Cuiabá.
A amostra foi composta majoritariamente por adolescentes com idades entre 13 e 15 anos, representando o total de 88,7% no início da pesquisa, em 2009, e 92,1% ao final dela, em 2019.
O consumo de álcool, por exemplo, teve um aumento de 1,4% no panorama geral. Dos adolescentes entrevistados em 2012, 53,4% deles já haviam experimentado bebidas alcoólicas, enquanto que em 2019 essa porcentagem subiu para 54,8%.
Esse aumento se deu majoritariamente entre as meninas, de 55,8% para 59,4%, e estudantes de escolas particulares, no qual o consumo era de 57,2% e foi para 65,2%.
Já o consumo referente a outros tipos de drogas teve um aumento mais expressivo, de 7,6% para 9,9% do mesmo período.
Nessa categoria houve uma queda no consumo por parte dos meninos e aumento por parte das meninas. Enquanto 9,2% deles experimentaram drogas no ano de 2012, 6,3% das meninas faziam o mesmo. Esse número caiu para 8,6% e subiu para 11,2%, respectivamente.
Dessa vez o aumento mais expressivo foi nas instituições públicas, em que o consumo foi de 7,7% para 10,4%, enquanto na privada foi de 7,3% para 8,7%.
Já no que se refere ao consumo de cigarros, o aumento foi pouco expressivo no panorama geral, de apenas décimos. De 25,1% em 2009 o contato desses adolescentes com o entorpecente foi para 25,4% em 2019.
Dentre aqueles que tiveram alguma vez contato com esse tipo de entorpecente, a maior parte teve interação com 13 anos ou menos. Em 2009 esse número foi de 67,2% e em 2019 de 70,8%, apontando para o contato cada vez mais precoce.
Segundo a psicóloga infantil Bruna de Macedo, de 37 anos, o contato com substâncias entorpecentes em menores nesse período da vida, em que o cérebro ainda está em formação, causa danos irreversíveis ao indivíduo.
“Como o cérebro está em desenvolvimento, em processo de amadurecimento, acaba afetando várias áreas como a cognitiva e de relacionamento”, explicou a especialista.
“É muito perigoso que eles tenham contato com drogas nessa fase de formação, porque depois que já amadureceu não tem como retornar esse cérebro a essa fase anterior. Isso vai impactar na vida adulta deles”.
Irritabilidade, ansiedade e a propensão para depressão são alguns dos impactos causados pelas drogas, incluindo álcool e fumo, nesses cérebros em formação.
Maus hábitos que impactam
A pesquisa é composta por 14 tabelas principais, cada uma delas tendo subdivisões que se aprofundam nos temas, apresentando, ainda, uma contextualização dos dados.
Dentre outros indicadores apontados pela pesquisa está o aumento do sedentarismo e a piora nos hábitos alimentares.
No início da pesquisa apenas 36,4% dos estudantes realizavam por mais de 3 horas seguidas atividades sentados. Esse número saltou para 56,8% em 2019.
Associado a esse indicador está a falta de atividades físicas, se no início da pesquisa 30,1% dos alunos se consideraram ativos nos 7 dias que antecederam a pesquisa, esse número caiu para 24%.
Para completar, os hábitos alimentares também apresentaram uma piora, como por exemplo, o fato de 74,9% dos alunos realizarem outras atividades durante as refeições. Esse número era de apenas 58,5% no início da pesquisa.
Segundo Macedo, esse é um hábito perigoso, que pode comprometer o bem estar desse indivíduo que está em fase de formação.
“Quando você está fazendo outra coisa, por exemplo, com o celular do lado ou com a TV ligada, dificilmente você está prestando atenção. Tem crianças hoje que comem e nem lembram o que comeram”.
“Já atendi uma criança que tinha almoçado e uma hora depois perguntou para a família se eles não iriam almoçar. Ela nem percebeu que já tinha almoçado”.
Esses três indicadores juntos e associados à uma falta de conexão familiar e com grupo de amigos, segundo a especialista , pode acarretar em um “quadro depressivo, de ansiedade ou de algum transtorno psicológico ou alimentar”.
Ela destaca ainda a importância do esporte nessa fase de desenvolvimento, em que o indivíduo está conhecendo seu corpo e os limites dele.