Além do atraso da colheita, outra preocupação dos produtores é uma anomalia que ocasiona uma perda na produção de vagem de soja. Ela tem sido identificada em algumas lavouras de Sorriso, Lucas do Rio Verde, Ipiranga do Norte e outros municípios de Mato Grosso.
A anomalia faz com que a vagem da soja fique com uma cor escura e os grãos não se desenvolvam como deveria. Em alguns casos, três de quatro grãos de uma vagem podem ficar danificados.
O produtor Loinir Gatto teve 37% de perda na produtividade em comparação com a safra passada. Ele possui uma fazenda de 110 hectares de área irrigada que fica em Ipiranga do Norte e conta que o mesmo problema já foi identificado em áreas sem os pivôs de irrigação.
“Isso é mais perceptível após 80 dias, mas se procurarmos na lavoura com 60, 65 dias é encontrado bastante vagem afetada. Em uma área eu estimo que tem até 30% de vagens que foram afetadas, mas não quer dizer que vai perder 100% dos grãos dentro desses 30% de vagem”, afirma.
Loinir explica que no ano passado conseguiu colher 70 sacas de soja e que se esse ano conseguir pelo menos 55 sacos já estará satisfeito, devido às perdas.
“No ano passado nós fechamos em torno de 70 sacos. Acima de 55 já começo a ficar satisfeito diante do que aparenta. Nas áreas um pouco mais tarde, nas sojas um pouco mais longas a gente ainda não identificou tanta severidade, então parece que nas áreas plantadas de 18 a 20 de outubro elas estariam melhores do que essas áreas plantadas entre 10 e 18 de outubro”, explica.
Apesar de ser um problema desconhecido para a maioria dos produtores, a Empresa Brasileira de Agropecuária (Embrapa) já acompanha a anomalia desde a safra de 2018, como explica a pesquisadora Dulândula Wruk.
“Temos acompanhado relatos de ocorrência de apodrecimento da vagem na parte mais baixa da planta a partir da fase de enchimento de grãos. Quando a gente observa a vagem, ela tem o apodrecimento e quando faz o isolamento dessas lesões nós encontramos fungos. São fungos que estão presentes nas lavouras e estão ali como oportunistas”, afirma.
A pesquisadora explica que há uma falha quando o manejo químico ou físico do solo não desenvolveu bem as raízes e que as plantas nessa área tendem a apresentar esses sintomas com uma maior intensidade do que nas áreas que tem o manejo mais próximo do ideal.
Além disso há o fator abiótico de estresse hídrico junto com alta temperatura. Esses fatores predispõem a planta de uma forma que favoreça esses fungos e facilitem essas lesões.
A pesquisadora ainda dá dicas de como o produtor pode evitar que a produção seja perdida.
“Na parte de clima não tem muito o que o produtor fazer, ele pode tentar um escape e não antecipar muito plantio. Além de fazer o manejo químico e físico do solo de forma que favoreça um bom crescimento para que a planta consiga suportar melhor um estresse hídrico. Fazer o manejo robusto de fungicidas específicos focando de maneira geral doenças que já ocorrem na lavoura e tentando proteger melhor a planta contra esses patógenos oportunistas que estão no solo”, afirma.