Brasil é mais preparado que a China para lidar com epidemias, diz estudo

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Terça, 04 Fevereiro 2020 | DA REDAÇÃO
O Brasil está entre os 25 países do mundo mais bem-preparados para eventuais ameças biológicas, de acordo com o Índice Global de Segurança em Saúde (GHS, na sigla em inglês).
Em um ranking de 195 países, o Brasil ocupa a 22ª posição, à frente da China (51ª), que vive uma epidemia de coronavírus.
O Índice Global de Segurança em Saúde — projeto da organização não governamental Nuclear Threat Initiative e do Centro de Segurança em Saúde do Johns Hopkins Center, desenvolvido pela Economist Intelligence Unit — avalia a capacidade de prevenção, detecção e respostas a ameaças biológicas e também o sistema de saúde.
A lista, divulgada em outubro do ano passado, inclui todos os países signatários do Regulamento Sanitário Internacional.
No topo do ranking aparecem Estados Unidos (1º), Reino Unido (2º) e Países Baixos (3º).
As posições são definidas por notas de 0 a 100, em que 100 indica as melhores condições de saúde. Os EUA tiveram 83.5 pontos. O último colocado foi a Guiné Equatorial, com 16.2 pontos. 
Segundo o estudo, "ameaças biológicas — naturais, intencionais ou acidentais — em qualquer país podem representar riscos à saúde global, segurança internacional e economia mundial. Como as doenças infecciosas não conhecem fronteiras, todos os países devem priorizar e exercer as capacidades necessárias para prevenir, detectar e responder rapidamente a emergências de saúde pública".
O Brasil obteve 59.7 pontos — acima da média (40.2) e da China, que aparece com 48.2 — e é o país latino-americano com a melhor posição. 
No item prevenção, que é a capacidade de impedir o surgimento ou liberação de patógenos, o Brasil teve 59.2 pontos (a média global foi de 34.8).
Em relação à detecção e reporte de ameaças biológicas, o Brasil obteve 82.4 pontos (a média global foi 41.9).
O sistema de laboratórios brasileiro recebeu nota 100 (a China teve 66.7). Em relação à vigilância em tempo real, o Brasil teve 81.7, contra 68.3 da China.
Vale ressaltar que o país conta com instituições de pesquisa que são referências internacionais, como a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), no Rio de Janeiro; o Instituto Evandro Chagas, no Pará; o Instituto Adolfo Lutz e o Instituto Butantan, em São Paulo.
O médico Gerson Salvador, infectologista e especialista em saúde pública pela Faculdade de Saúde Pública da USP (Universidade de São Paulo), explica que a vigilância no Brasil tem sido aperfeiçoada nas últimas décadas.
"Uma das áreas de maior expertise que nós temos no Brasil é o serviço de vigilância. Servidores públicos de carreira em nível federal e nos estados e municípios, de elevada competência técnica, que já lidaram com diversas epidemias no Brasil, como zika e H1N1."
O Brasil também recebeu nota máxima no sub-item "integração de dados humanos/animais/ambientais entre os setores de saúde", enquanto a China teve 0.
No item resposta rápida, que é capacidade de responder rapidamente e mitigar a propagação de uma epidemia, a nota brasileira foi 67.1 (ante 38.4 da média mundial).
O Brasil aparece entre os únicos noves países considerados pelo estudo como os melhores no critério de resposta rápida — os outros são Reino Unido, Estados Unidos, Suíça, Países Baixos, Tailândia, Coreia do Sul, Finlândia e Portugal.
Sistema de saúde
O sistema da saúde brasileiro recebeu nota 45 (26.4 foi a média global). O ambiente de risco, que analisa questões políticas e infraestrutura, teve 56.2 pontos (55 foi a média).
A China não tem um sistema de saúde universal e gratuito, como o SUS. Em grandes áreas urbanas, os moradores não têm atedimento gratuito e precisam pagar ou contratar seguro de saúde. 
Tanto que no sub-item acesso ao sistema de saúde, a China recebeu nota 31.4, enquanto o Brasil teve 44.3.
No quesito específico de infraestrutura a China ganha do Brasil (75 pontos contra 33.3). Neste ponto, uma epidemia de coronavírus poderia colocar ainda mais peso sobre o já inchado atendimento da rede pública. 
"O Brasil já vive um colapso assistencial, com falta de leitos no SUS. Faltam leitos de UTI em todos os estados. O problema, nessa questão, não é o coronavírus. O Brasil já não tem uma infraestrutura hospitalar", afirma o infectologista.
Salvador pondera, no entanto, que o número de pessoas infectadas com o novo vírus fora da China gira em torno de 1% do total de casos (17,9 mil).
"Se tiver aqui no Brasil o número de casos que tem ocorrido mundo afora, isso não vai impactar [a rede pública]", ressalta.
O infectologista avalia como adequadas as medidas que estão sendo tomadas pelo Brasil e diz que "a gente não deve ter motivo para restringir o fluxo de pessoas e nem o comércio".
"Essas restrições são baseadas em preconceito e xenofobia. Até o presente momento, os casos estão concentrados na China E dentro da China, estão concentrados em uma única província."
Ele também ressalta que há muita desinformação sobre a epidemia circulando pelas redes sociais. 
"Existe uma epidemia de notícias falsas e de pavor que se precedeu à chegada do vírus no Brasil."
Epidemia atual infecta mais, mas mata menos
O relatório do GHS Index faz um alerta: "hoje, quase dois terços dos patógenos conhecidos e três quartos dos patógenos emergentes são zoonóticos — o que significa que se espalham dos animais para os seres humanos".
O novo coronavírus que provoca a epidemia na China é um desses casos. No entanto, pesquisadores ainda tentam descobrir qual animal selvagem foi a fonte. Estudos preliminares apontam relação com morcegos e cobras.
Esta é a terceira epidemia de coronavírus. A primeira delas — SARS (síndrome aguda respiratória grave) ocorreu na China, em 2002 e 2003. A segunda teve início em 2012, na Arábia Saudita, e é chamada de MERS (síndrome respiratória do Oriente Médio). 
A epidemia atual já infectou mais pessoas que as duas juntas, embora até agora tenha se mostrado menos letal — em torno de 2% dos doentes morreram. No caso da SARS, a taxa de letalidade era de 9,6%; e da MERS, 34,4%.

 

 
 
 
 
 
 
 
 
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