Pantanal de Mato Grosso completa 3 anos em 2023 desde o pior incêndio registrado no bioma. Apesar da aparência de renovação da natureza em alguns pontos, especialistas apontam que a recuperação pode demorar até 40 anos.
Previsão foi dada pela gerente-geral do Sesc Pantanal, a doutora em Ciência Ambiental Cristina Cuiabanália. Apontamento é baseado em estudos que acompanham as tentativas de recuperação ambiental dentro da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), do Sesc Pantanal, que é a maior reserva privada do Brasil.
Atingida severamente pelo fogo no período de estiagem de 2020, a RPPN registrou diversas perdas na flora e fauna, a exemplo da morte de 9.577 macacos-prego e mais de 3,6 mil jacarés. Em meio aos danos, o alerta da preservação ambiental é a tônica que sustenta os trabalhos de recuperação na área.
Contudo, segundo Cristina Cuiabanália, alguns mitos precisam ser combatidos quando se fala em recuperação do meio ambiente. Um deles, o da recuperação rápida, faz com que as pessoas tenham a ideia equivocada de que os biomas podem voltar a ser como eram antes de grandes queimadas em um período de tempo curto.
"Em 2021, a gente chegou depois da chuva e já estava tudo verdinho. Então, há o 'nossa, o Pantanal se recupera super rápido, já está tudo verde'. Mas, na verdade, é tudo uma sucessão que acontece na natureza. Passa o incêndio, daí vem aquele verdinho que cobre tudo, mas é uma vegetação primária, é uma vegetação oportunista daquela condição", disse.
"É possível recuperar, mas o custo da recuperação é muito maior que o da prevenção, absurdamente maior. Então, a gente tem feito esse trabalho de acompanhamento e documentação com publicação científica, a gente tem uma rede de pesquisadores que a gente apoia", acrescentou.
Na unidade gerenciada pelo Sesc, os danos ao meio ambiente só não foram maiores por conta da atuação rápida de guarda-parques da RPPN e ações emergenciais no local. Estudo em curso desde 2021 destrincha o impacto do incêndio e pode nortear soluções ambientais para áreas atingidas pelo fogo a partir da experiência da reserva.
Queimadas
Volume de vegetação queimada e animais mortes em incêndios em todo Pantanal mato-grossense foram destaque nos principais jornais do mundo. Cerca de 30% do bioma no estado foi devastado pelo fogo e ainda não se recuperou da degradação.
Primeiros focos de incêndio foram registrados no dia 21 de julho em uma fazenda do Pantanal. Desde então, as queimadas só se alastraram por outras fazendas, áreas indígenas e ameaçaram estrutura de hotéis e pousadas na região.
Ao todo, o fogo consumiu 2 milhões de hectares na planície alagada. Segundo o Corpo de Bombeiros, a Operação Pantanal II foi realizada entre 7 de agosto e 21 de outubro, com empenho de 344 militares. Na ação, os bombeiros atenderam a 216 animais feridos pelo fogo.
A situação alarmante atraiu voluntários e artistas engajados com causas animais como Luísa Mel e o apresentador Richard Rasmussen, que gravou programas no Pantanal.