Duas mães. Duas histórias. Duas lutadoras que há quatro anos dividem a mesma batalha contra o câncer que atingiu os seus filhos e mudou a vida de toda a família.
As histórias são semelhantes às das demais mães das outras 12 crianças e adolescentes em tratamento de câncer e hospedadas na Associação de Amigos das Crianças com Câncer de Mato Grosso (AACC), no bairro Alvorada, em Cuiabá.
Se para as crianças já é difícil encarar o tratamento, a distância dos amigos, da escola, da casa, se submeter à cirurgia, sessões de quimioterapia e radioterapia, a vida exige dessas mães muito mais, verdadeiras provas de fogo.
Maria da Penha com o filho Paulo Henrique, que luta contra o câncer há quatro anos (Mary Juruna/Midia News)
Além de assistir diariamente a doença do filho e sofrer com eles, muitas têm que abdicar da carreira profissional, passar meses longe do marido, suportar a saudade dos outros filhos que cobram mais atenção e ainda ficar firmes e fortes para não desmoronar diante da criança em tratamento contra o tumor.
Há três anos, quando recebeu o diagnóstico de leucemia da filha Emily Taís Dutra de Souza - na época, com 3 anos -, a vida de Cíntia Raquel Dutra mudou de rumo.
Moradora de Sinop (500 km ao Norte de Cuiabá), quando a criança adoeceu, a mãe assustou quando o médico disse que a doença da filha poderia ser dengue. Mas, logo que a coluna da menina trincou, o caso foi encaminhado para Cuiabá.
Após ser internada na Santa Casa de Misericórdia, descobriu-se que o caso era mais sério e a mãe recebeu o diagnóstico de câncer.
“Foi um choque, tive que deixar meu emprego de auxiliar de produção em um frigorífico e passei oito meses direto em Cuiabá, seis de internação na Santa Casa e outros dois meses na AACC. Meu casamento começou a desandar porque tive deixar a bebê de um ano com o pai, além do meu filho de 7 anos”, disse.
Cíntia teve que encarar ainda a cobrança e ouvir o choro dos outros filhos pedindo para ela voltar para casa. Uma irmã a ajudou a cuidar das crianças que ficaram em Sinop. Quando puderam retornar para casa, Emily sentia saudades do hospital, que para ela, era a sua verdadeira casa. “Ela não aceitava a nossa casa”.
Hoje, a menina está em fase de manutenção. Todos os meses elas vem para Cuiabá para continuar o tratamento e passam de três a quatro dias, mas apesar do pouco tempo, os outros filhos, agora uma outra bebê de 1 ano, uma de 4 e outro de 10 anos começam a chorar e pedir a presença da mãe.
“Meu casamento deu até uma melhorada, mas não é fácil. Estou sedentária, penso em voltar a trabalhar para ajudar nas despesas”, disse Cíntia.
No início, uma das provas de amor dessa mãe dedicada na jornada ao lado da filha, além da renúncia que teve que fazer, foi ajudar a menina encarar a queda dos cabelos. Ela comprou uma boneca careca para a filha e disse que ela ficaria como o brinquedo.
“Ela aceitou se parecer com a boneca, mas quando o cabelo dela começou a crescer de novo, quis saber porque a boneca continuava careca”, disse a mãe.
Para ela, dividir essas experiências com as outras mães é importante. Elas sofrem juntas e comemoram juntas as pequenas vitórias. Quando o filho de uma colega volta a adoecer é como se todas estivessem na mesma situação.
Todo mês, Cíntia deixa três filhos e marido para acompanhar tratamento da filha Emily
A paraibana Maria da Penha Freitas da Silva, de Nova Olímpia (197 km da capital), não esconde a apreensão depois de que o tumor voltou a atacar o filho dela Paulo Henrique, 12 anos. Quando ele tinha 8 anos surgiu um nódulo no cotovelo, foi feita biópsia em Cuiabá e o médico telefonou para ela para dar o diagnóstico de câncer pessoalmente.
“Era um tumor maligno e a partir disso, tudo mudou. Deixei minha casa e fiquei seis meses direto com ele internado no Hospital do Câncer. Como meus filhos tem 16 e 17 anos, eles entenderam e o meu marido também. Depois desse período, passava três ou quatro dias do mês em casa durante um ano”.
Quando pensou que estava saindo dessa luta ingrata, há um ano, o tumor se manifestou novamente no pulmão do menino. Ele fez a cirurgia e novamente, passa por quimioterapia. “Ele está péssimo, está revoltado. Na primeira vez ele ficou muito nervoso, chorou por perder os cabelos e agora passar por tudo isso de novo? Ele se revoltou porque agora a doença veio mais forte”, disse a mãe também sem esconder a indignação e a tristeza.
Ajuda e exame caro
O custo de manter a AACC varia entre R$ 150 mil a R$ 200 mil. A casa sempre está sempre precisando de ajuda da sociedade, seja com dinheiro, pagamento de exames com doações de roupas para realização do Bazar Solidário, voluntários e alimentação. A responsável pela área administrativa e financeira da entidade, Mirerllyn Souza, disse que uma das grandes necessidades são doações de carne para o preparo das refeições. Ao todo, são servidas cinco refeições diárias para as crianças internadas e seus acompanhantes.
Outra forma de ajuda é com o pagamento de exames a crianças em tratamento. Como são oriundas de famílias de baixa renda, os pais não conseguem arcar com os custos de exames não pagos pela tabela SUS.
Um menino de 7 anos, natural da comunidade São João, de Figueirópolis D´Oeste esta internado na Santa Casa. Foi solicitado o exame de imunofenotipagem, realizado em Goiânia (GO), para descobrir o estágio da leucemia. O preço é de R$ 450, e a instituição pede doadores. “Há sempre casos assim”, conta Mirerllyn.
Hoje há 287 crianças cadastradas na entidade e 28 pessoas instaladas. A Casa de Apoio tem capacidade para 44 pessoas. Em cada quarto há espaço para duas mães e duas crianças. Lá as crianças recebem aula para não perder o conteúdo da série em que estão matriculadas, para que ao retornar ao colégio não repetir o ano. A Secretaria Estadual de Educação (Seduc) disponibilizou cinco professores para atender as crianças.
“Precisamos de todo tipo de ajuda, estamos sempre precisando de pessoas com coração aberto seja ajudando com dinheiro ou com seu tempo”.
Interessados em colaborar com a AACC procurando a entidade pelo telefone 3025-0800 ou por meio de depósito na conta da entidade Banco do Brasil, agência 3325-1 conta corrente 7000-9.