Um dos alvos da operação “Descobrimento”, deflagrada na última terça-feira (19) pela Polícia Federal, montou um verdadeiro "harém" para colocar em prática um esquema de tráfico internacional de drogas, revelado pela PF.
Rowles Magalhães é advogado e apontado como lobista do veículo leve sobre trilhos (VLT), projeto bilionário que deveria atender Cuiabá e Várzea Grande, e que nunca saiu do papel. Investigações da Polícia Federal apontam que ele seria um dos integrantes do 1º escalão da organização criminosa (Orcrim), que enviava cocaína do Brasil para Portugal.
Para “ajudar” a colocar em prática o tráfico, Rowles Magalhães contava com pessoas de confiança, quatro mulheres, com quem já teve e atualmente possui relacionamentos amorosos. A primeira delas é sua ex-esposa, a pedagoga Milena Maria Felisoni Coelho, que ficava com a “guarda” dos dólares obtidos pelo ex-companheiro no crime, segundo a PF. Ela foi um dos alvos de busca e apreensão da operação “Descobrimento”
“Em relação à Milena Maria Felisoni Coelho, as investigações concluíram que é ex-esposa de Rowles, sendo auxiliada financeiramente por ele. Em compensação, segundo consta do relatório policial, Milena fica responsável pela guarda de dólares de Rowles, fruto, em tese, das atividades com o tráfico internacional de drogas”, revelam trechos das investigações.
Outra pessoa de confiança do lobista seria sua atual companheira, a corretora de imóveis Joelma de Moraes Gomes Girotto, utilizada como “laranja” do esquema pelo próprio marido, suspeita de lavagem de dinheiro. A PF revela que ela é aposentada ou pensionista, com rendimentos mensais de pouco mais de R$ 3 mil, e estranhou quando identificou uma movimentação financeira em suas contas da ordem de R$ 3,9 milhões, entre os anos de 2020 e 2021. Pelo menos um imóvel adquirido pelo lobista está em nome da suspeita.
“As investigações demonstram que Joelma é utilizada por Rowles para a lavagem de dinheiro oriundo do tráfico. No relatório da PF está demonstrada a prática do crime de lavagem de capitais, em razão da aquisição de um imóvel por Rowles Magalhães, com dinheiro oriundo, em tese, do tráfico de drogas, e registrado em nome de Joelma Moraes Gomes”, apontam as investigações.
Enquanto duas de suas “parceiras” faziam o “serviço de sujo” – de guardar os dólares obtidos com o crime, e também de lavagem de capitais -, Rowles escolheu uma outra mulher para “torrar” o dinheiro do tráfico. A comissária de bordo de 26 anos de idade, identificada como Karolina Santos Trainotti, era privilegiada com o status de “namorada” do traficante de drogas, ganhando como presentes jóias, viagens internacionais, além de ter recebido R$ 63,5 mil em transferências bancárias da organização criminosa.
“As investigações apontam que Karolina Santos Trainotti é namorada de Rowles, acompanhando-o em viagens internacionais, bem como recebe muitos presentes caros (jóias, etc), sendo também auxiliada financeiramente por ele. Karolina Trainotti é frequentemente beneficiada com transferências bancárias de altos valores, a pedido de Rowles”, revelaram as investigações.
Por último, mas definitivamente não menos importante, está a doleira Nelma Kodama. Ao contrário das outras supostas integrantes da organização criminosa, "coadjuvantes" nos crimes, ela é apontada pela PF como integrante do 1º escalão da quadrilha, assim como Rowles Magalhães.
Nelma Kodama foi a primeira delatora da operação “Lava Jato”, e chegou a viver um romance público com o lobista, que a identificava na agenda de seu celular com a alcunha de “Paixão Ilimited”. O termo é uma alusão a palavra da língua inglesa “unlimited”, ou seja, “Paixão Ilimitada”.
Um dos episódios narrados pela Polícia Federal entre o casal ocorreu em junho de 2020. Ambos conversavam sobre uma remessa de cocaína avaliada em R$ 3 milhões para a Europa, e que Nelma Kodama permaneceria em cárcere privado, num local não revelado nos autos da operação “Descobrimento”, até a chegada dos entorpecentes ao destino. A PF explicou que essa é uma prática comum das quadrilhas de tráfico de drogas.
Enquanto aguardava na casa da própria amada sua chegada, que estava “presa”, Rowles reclamou de insônia, sendo orientado por Nelma Kodama que havia um remédio na escrivaninha. Mais tarde, a doleira “tranquiliza” o companheiro, dizendo que em breve deveria ser “liberada” do cárcere.
“No dia 08/06/20, Rowles reclama que não consegue dormir e Kodama aconselha a pegar um remédio na gavetinha da escrivaninha. Por essa mensagem percebe-se que o Rowles estava na casa da Kodama e que ela está fora de casa, possivelmente porque ela ainda está aprisionada pelos membros da ORCRIM. Mais tarde Kodama informa que logo estará em casa, possivelmente porque vai ser libertada pela ORCRIM em razão da entrega da droga”.
OPERAÇÃO DESCOBRIMENTO
A Polícia Federal deflagrou, na manhã desta terça-feira (19), a Operação “Descobrimento”, com o objetivo de desarticular uma organização criminosa especializada no tráfico internacional de cocaína.
Estão sendo cumpridos 43 mandados de busca e apreensão e sete mandados de prisão preventiva nos estados da Bahia, São Paulo, Mato Grosso, Rondônia e Pernambuco. Em Portugal, com o acompanhamento de policiais federais, a polícia portuguesa cumpre três mandados de busca e apreensão e dois mandados de prisão preventiva nas cidades do Porto e Braga.
As investigações tiveram início em fevereiro de 2021, quando um jato executivo Dassault Falcon 900, pertencente a uma empresa portuguesa de táxi aéreo, pousou no aeroporto internacional de Salvador/BA para abastecimento. Após ser inspecionado, foram encontrados cerca de 595 kg de cocaína escondidos na fuselagem da aeronave.
A partir da apreensão, a Polícia Federal conseguiu identificar a estrutura da organização criminosa atuante nos dois países, composta por fornecedores de cocaína, mecânicos de aviação e auxiliares (responsáveis pela abertura da fuselagem da aeronave para acondicionar o entorpecente), transportadores (responsáveis pelo voo) e doleiros (responsáveis pela movimentação financeira do grupo).
As medidas judiciais foram expedidas pela 2ª Vara Federal de Salvador/BA e pela Justiça portuguesa. A Justiça brasileira também decretou medidas patrimoniais de apreensão, sequestro de imóveis e bloqueios de valores em contas bancárias usadas pelos investigados.
No curso das investigações, a PF contou com a colaboração da DEA (Drug Enforcement Administration – Agência norte-americana de combate às drogas), da Unidade Nacional de Combate ao Tráfico de Estupefacientes da Polícia Judiciária Portuguesa e do Ministério Público Federal.