Em apenas dois anos, pelo menos 17 homens de outros estados foram sequestrados e mortos por membros do Comando Vermelho (CV) em Mato Grosso. Levantamento realizado pela reportagem indica que 8 corpos ainda não foram localizados e há um padrão nestes casos, como o fato das vítimas estarem há pouco tempo na região, principalmente a trabalho, e terem sido confundidas com membros de facções rivais, como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e, por isso, condenadas pelo “tribunal do crime”.
Apesar do Comando Vermelho ter surgido há cerca de 10 anos em Mato Grosso, o delegado Caio Fernando Albuquerque, da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa de Cuiabá (DHPP), diz que é perceptível o aumento das execuções causadas pela facção criminosa, dominante em Mato Grosso, em 2018. No ano seguinte já teria surgido o primeiro caso em que trabalhadores de outros estados foram assassinados pela facção.
Em Cuiabá, 3 vendedores ambulantes de tapetes, que estavam apenas há uma semana na Capital, foram mortos após serem confundidos com membros do PCC. Outro caso registrado em Cuiabá foi em 2021, quando 4 maranhenses desapareceram. O delegado conta que eles teriam dito em um bar que eram membros de facções rivais e, por isso, foram executados. Os corpos ainda não foram encontrados.
“Eles (faccionados) monitoram as pessoas dos bairros. As pessoas que são estranhas e entram ali, são monitoradas. E a depender, às vezes, de um comportamento mínimo, como os maranhenses que estavam no Renascer, e ali bebiam e como dizem ‘querem se aparecer’ e falaram ‘eu sou do Bonde dos 40’, uma facção do Maranhão, caiu no ouvido da facção daqui”, enfatiza Albuquerque.
O delegado explica que a suspeita é de que os corpos estejam no cemitério clandestino do CV, no bairro Osmar Cabral, mas até o momento a polícia não conseguiu localizar o local exato em que foram desovados. Além desses casos, há pelo menos dois desaparecidos há mais de um ano em Campo Verde, assim como este ano desapareceu Kelvin Brito Reis, em Nova Santa Helena e, há um mês, Pablo Ronaldo Coelho dos Santos, em Nova Ubiratã.
Entre os casos em que os corpos já foram localizados, estão os dos 4 paranaenses em Nova Monte Verde, no fim do ano passado e, recentemente, os 3 trabalhadores de São Paulo que foram mortos em Campo Verde.
Gestos e tatuagens levam para ‘tribunal’
Algumas das vítimas foram confundidas com membros de facções rivais por fazerem determinados gestos com as mãos ou terem tatuagens que podem relacionar a outras facções. A carpa, por exemplo, é usada por membros do PCC. O delegado Caio Albuquerque esclarece sobre os gestos com as mãos, como levantar dois dedos, formando principalmente um V, é simbologia do Comando Vermelho, mas levantar 3 dedos está relacionado ao PCC.