Criminosos estão substituindo canetas originais de Ozempic por produtos falsificados contendo insulina. O medicamento, originalmente desenvolvido para tratamento de diabetes tipo 2 e amplamente usado para perda de peso, tornou-se alvo de falsificação que já levou dezenas de pessoas ao hospital. Em alguns casos, as vítimas chegaram à UTI em estado grave, após apresentarem sintomas de hipoglicemia severa.
A fraude começa com uma ligação para farmácias. Os criminosos solicitam várias unidades de Ozempic, e ao chegar o entregador, são abordados por uma pessoa que afirma ser o cliente, mas que, na verdade, não reside no local indicado. Fingindo desistência da compra, essa pessoa devolve uma sacola com canetas trocadas, contendo insulina no lugar da semaglutida – a substância ativa do Ozempic. A farmácia, sem perceber a fraude, vende as canetas adulteradas para outros clientes, colocando-os em risco.
O caso de uma mulher, que preferiu não ser identificada, expõe a gravidade do golpe. Ela estava usando Ozempic com orientação médica há oito meses, quando, em uma manhã, ao aplicar a dose, começou a passar mal em minutos. "Eu apliquei às 8 da manhã e, 15 minutos depois, me senti tonta. Minha pressão caiu, e eu comecei a ficar branca, com lábios escuros", contou. Ao chegar ao hospital, foi constatada uma hipoglicemia severa, com glicose abaixo de 20 mg/dL – um nível perigosamente baixo.
A médica Luciana Lopes, endocrinologista responsável pela Rede D’or, identificou o problema. "A semaglutida, usada no Ozempic, não causa quedas tão acentuadas na glicose. Quando vimos a condição da paciente e a alteração neurológica, levantamos a hipótese de falsificação. Uma análise confirmou que a caneta continha insulina em vez de semaglutida", relatou.
Outras vítimas, como o empresário Rafael Borsetto e o engenheiro Dib Nessim Endebo, também relataram experiências traumáticas após o uso de canetas adulteradas. “Fiquei arrepiado ao lembrar da sensação”, disse Borsetto, enquanto Endebo, que tem diabetes tipo 2, afirmou ter sentido revolta ao saber que injetava insulina, não o medicamento correto. "Saí dando chute em tudo. Fiquei chorando igual criança", contou.
Prejuízos financeiros e alerta do fabricante
Além dos riscos de saúde, o golpe gera prejuízos financeiros às farmácias, que são obrigadas a devolver o dinheiro a clientes que compraram os produtos adulterados. Sérgio Mena Barreto, CEO da Abrafarma, destaca que o ressarcimento é inevitável, mas o impacto no setor é significativo. "Estamos perdendo credibilidade junto aos consumidores e arcando com prejuízos financeiros, enquanto buscamos formas de evitar esse tipo de fraude", afirmou.
A Novo Nordisk, fabricante do Ozempic, anunciou que colabora com a Anvisa em uma campanha para alertar consumidores e farmácias sobre as diferenças entre as canetas originais e falsificadas. Segundo Priscilla Mattar, vice-presidente da área médica da Novo Nordisk Brasil, a identificação dos produtos adulterados é possível. "A caneta genuína é azul clara com detalhes em cinza. Já a falsa tem componentes laranja e é azul escura", explicou.
Investigações em andamento
A Polícia Civil do Rio de Janeiro, que já ouviu vítimas e testemunhas, informou que as investigações estão em andamento. Diversos boletins de ocorrência foram registrados desde agosto, e os detalhes apontam para uma quadrilha organizada e especializada na falsificação de medicamentos de alto valor. (G1 - Fantastico)