Irmãos idosos são resgatados em meio a vermes em MT

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Quinta, 07 Março 2019 | FolhaMax
Graças ao projeto Ribeirinho Cidadão, realizado no mês de fevereiro pelo Poder Judiciário de Mato Grosso e instituições parceiras, o olhar do Estado chegou até dois idosos de 84 e 86 anos que estavam abandonados, vivendo em condições totalmente degradantes, passando fome, sem medicamentos, em meio a parasitas, entulhos e matagal, isolados no Vale Abençoado, vilarejo do município de Santo Antônio de Leverger.
Os irmãos André Rodrigues da Silva e Abílio Rodrigues da Silva moram sozinhos no Vale há mais de 20 anos. Nos últimos anos, com a idade avançada, as funções rotineiras se tornaram muito dificultosas, pois ambos possuem catarata em estágio avançado, de modo que a visão é muito limitada; André não consegue ficar ereto por patologias graves na coluna; Abílio também tem problemas auditivos e ambos são hipertensos.
A denúncia da situação calamitosa em que se encontravam os idosos chegou à coordenadora do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) de Santo Antônio, Carla Ito, durante o Ribeirinho Cidadão, ao qual ela estava trabalhando como voluntária.
Quando Carla chegou ao casebre onde moram, se assustou com a situação: só havia arroz, feijão e açúcar para comer, um dos colchões estava cheio de vermes, a casa toda tinha mau cheiro, os dois estavam sem tomar banho há meses e havia vários medicamentos vencidos. “Eu chorei quando vi os dois naquelas condições, idosos, sozinhos. A casa estava extremamente suja, muito lixo, com bicho, não tinha como entrar”, relata.
Imediatamente, a coordenadora mobilizou a equipe do projeto, que tomou todas as medidas possíveis para auxiliá-los. Abílio e André foram levados até o local onde estavam sendo realizados os atendimentos no Vale Abençoado, no dia 24 de fevereiro, passaram por avaliação médica, receberam medicamentos, tiveram seus documentos checados, bem como os benefícios da aposentadoria – que, de acordo com informações preliminares, estavam sendo sacados por familiares sem o repasse devido aos idosos.
A equipe do CREAS esteve novamente na residência dos idosos no dia 27 de fevereiro para elaborar o relatório psicossocial, a fim de subsidiar os próximos trâmites legais que serão feitos pelo Ministério Público Estadual.
“Nessa visita, constatamos que existe uma ausência de cuidados, uma situação de negligência e abandono. A família parece que tem pouquíssimo contato com eles. Pudemos levantar o histórico, desde a vinda deles para cá e como têm vivido até agora, de uma forma muito precária”, observa a psicóloga do CRAS de Santo Antônio, Leocádia Pio Sales.
“A situação deles é gravíssima, não tem como esperar. Não tem como continuarem aqui, eles precisam de um lugar que seja digno”, complementa a assistente social Alair Almeida Camacho.
Abandono – Questionados sobre a situação de abandono em que se encontram, os idosos confirmam o sentimento: “o filho deve cuidar do pai, porque ele que criou do filho, agora ele que tem que cuidar de nós”, afirma André. “A gente fica abandonado, fica sozinho aqui”, completa Abílio.
O apoio dado pela equipe do CREAS, pela comunidade e pelos parceiros do Ribeirinho Cidadão já amenizou em partes o sofrimento dos idosos. Foi feita uma limpeza na casa, eles receberam a visita de familiares, alimentos foram doados e vários vizinhos se propuseram a ajudar. Entretanto, esse é um trabalho que deve ser contínuo e cauteloso, conforme ressalta o juiz-coordenador do Ribeirinho Cidadão, José Antônio Bezerra Filho.
“Já houve uma melhora significativa na vida desses dois idosos. Eu vou acompanhar isso, a ação do Ministério Público foi passada ao juízo competente, o promotor está acompanhando pari passu essa situação para tomar as ações cíveis e criminais pertinentes. Exige cautela, muito cuidado, porque ao tirá-los de lá ou não dar um suporte necessário, com certeza o óbito virá. Nós temos que fiscalizar, de forma que não possamos mais deixá-los em total abandono”, analisa o magistrado.
O Projeto Ribeirinho Cidadão é desenvolvido pelo Poder Judiciário do Estado de Mato Grosso junto com a Defensoria Pública e demais parceiros para levar dignidade, justiça e serviços de saúde à população ribeirinha do baixo pantanal. Este ano o projeto foi realizado entre os dias 4 e 25 de fevereiro.

 

 
 
 
 
 
 
 
 
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