Democracia Cristã (DC) convidou o delegado da Polícia Civil João Bosco para se filiar ao partido. O intuito é viabilizar uma candidatura própria em Chapada dos Guimarães (a 67 km de Cuiabá). Bosco está afastado da função há seis anos depois de ter sido alvo nas investigações da Operação Abadom, deflagrada pela Delegacia Especializada de Repressão a Entorpecentes (DRE), em 2013.
Bosco conta ao que foi pego de surpresa pelo convite e pela repercussão que a possibilidade de ser candidato tem gerado no meio político em Chapada. “Não digo que dessa água não beberei, mas eu nunca tive essa pretensão, nunca fui filiado a partido político, mas vou avaliar a possibilidade”.
Após enfrentar a exposição de sua imagem e da sua esposa, Gláucia Cristina Alt, que é investigadora de polícia, e que também foi afastada da função após ter sido alvo da operação, João Bosco enfrentou depressão profunda. Há quatro anos ele faz acompanhamento psiquiátrico e toma medicamentos controlados.
Gláucia também está com saúde fragilizada. Há cerca de um ano foi infectada por uma bactéria em um tratamento odontológico que gerou um distúrbio raro. O tratamento tem sido feito em São Paulo, e a investigadora chegou a ficar internada por mais de três meses em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Segundo Bosco, o enfrentamento de eventual disputa eleitoral poderia afetá-lo emocionalmente novamente, visto que fatos que marcaram sua vida recentemente como a Operação Abadom poderiam ser utilizados como artimanha política contra sua possível candidatura.
Em fevereiro deste ano, uma decisão judicial garantiu que Bosco e a esposa pudessem retornar ao trabalho. Mas o delegado afirma que não teve condições de voltar a trabalhar em razão do tratamento da esposa e da sua fragilidade emocial. Por decisão administrativa está mantido afastado. Bosco também tenta desfrutar de 14 férias vencidas e 24 meses de licença-prêmio que adquiriu nos 30 anos de serviço prestado.
Com 65 anos, o delegado aponta que ainda não decidiu se vai se filiar ao DC, e avalia que até então a única pretensão política que possui é de apoiar seu filho, Luiz Martins da Cruz, o Tui (sem partido) a candidatura para vereador. Nas eleições 2016, Tui concorreu ao cargo pelo PT, mas ficou em 60º lugar, tendo recebido 48 votos.
“Eu nunca pensei na hipótese de ser candidato, pelo menos não diante dessa indefinição em relação ao processo na Justiça”
João Bosco
Apesar da indecisão, o delegado avalia que caso sua resposta seja positiva, o partido escolhido seria o DC. “Eu nunca pensei na hipótese de ser candidato, pelo menos não diante dessa indefinição em relação ao processo na Justiça, que há seis anos não se chegou a nenhuma conclusão e eu sequer fui ouvido. Também existe um PAD (Processo Administrativo Disciplinar) que também está há seis anos sem ser concluído. Eu quero resolver tudo isso primeiro e principalmente, cuidar da saúde da minha família”, pontuou.
Operação Abadom
Na Operação Abadom, Bosco e a esposa Glaucia eram suspeitos de extorquir uma quadrilha de tráfico de entorpecentes para supostamente acobertá-los. Bosco revela que um dos envolvidos na quadrilha era seu primo, Anderson Nascimento, que foi assassinado em 2014, no bairro Morada d’Ouro, em Cuiabá, por um advogado.
O delegado aponta que teria sido associado de forma equivocada ao primo, do qual não tinha conhecimento que era traficante, fato que só soube posteriormente as investigações. Tudo começou com uma ligação na qual Bosco estaria cobrando uma dívida referente a um armário que teria vendido ao primo. No entanto, a ligação – grampeada – teria dado margens para interpretações equivocadas em relação a situação.
À época da operação, a delegada que conduziu as investigações, Alana Cardoso, afirmou que as investigações que resultaram na prisão de Bosco e Glaucia , teriam sido iniciadas sete meses antes após a prisão em flagrante de uma pessoa na rodoviária de Várzea Grande. A partir da situação, a dedução foi de que Bosco e Glaucia estariam extorquindo dinheiro de traficantes para evitar prisão e até devolvendo certa quantia de entorpecentes apreendida.
Bosco aponta que à época de sua prisão, o Ministério Público não conseguiu provas suficientes para sustentar a acusação, o que obrigou o juiz à liberá-lo e os demais suspeitos de tráfico. Ao todo, 15 pessoas foram indiciadas, sendo que sete eram policias.