Júnior revela que presidência da AL e carro oficial eram usados para fechar "negócios"
Em depoimento que durou pouco mais de 50 minutos, no gabinete da 7ª Vara Criminal de Mato Grosso, o delator premiado da Operação Ararath e pivô das investigações da Operação Imperador, deflagrada pelo Ministério Público do Estado em 20 de fevereiro deste ano, Gércio Marcelino Mendonça Júnior, popular Júnior Mendonça, disse que negociava empréstimos milionários com ex-deputado José Riva (PSD) desde 2006, dentro do gabinete da presidência da Assembleia Legislativa de Mato Grosso. Segundo ele, cheques e dinheiro eram transportados em veículo oficial.
Segundo Mendonça, ele conheceu José Riva em 2006 através de um amigo incomum de ambos, identificado como Eduardo Jacoob. “O Eduardo me falou bem do Riva, disse que era um homem de palavra e que cumpria suas pendências e eu fui até ele na presidência da Assembleia para acertar o primeiro empréstimo que foi de R$ 2 milhões. Todo dinheiro que era emprestado por mim era transportado em um veículo da Assembleia (Corolla de placa branca)”, disse Mendonça.
Ainda segundo o agiota, quem coordenava as formas que eram feitas esses empréstimos e a maneira da quitação era o secretário geral da Casa, Ademar Adams, falecido em 2010 por problemas de saúde.
Para garantir o pagamento desse primeiro empréstimo, Mendonça exigiu uma garantia e Riva deu sua casa, no bairro Santa Rosa. “Fizemos um documento de compra e venda e quando a maioria do empréstimo fosse quitado, eu retornaria a casa no nome de Janete Riva. Eu cheguei a emprestar uma quantia de pelo menos R$ 10 milhões, sendo apenas uma de 2 e outra de R$ 3 milhões como os maiores empréstimos. Os outros valores variam de R$ 200 mil e R$ 500 mil”, comentou.
O representante do Ministério Público, promotor Marco Aurélio de Castro, questionou sobre o motivo dos empréstimos e Mendonça respondeu que não sabia de nada, porém em 2010 Riva começou a lhe dizer que era para o “sistema”.
“Eu fiz vários empréstimos para Riva só que em 2010 ele começou a ficar inadimplente, após a morte de Ademar. Com isso parei de atendê-lo e ir até ele. Mas, ele me mandava mensagens, dizendo que o dinheiro era para o “Sistema”, sendo esse sistema montado por imprensa e deputados”, declarou.
Mendonça ainda afirmou que em certo período, quando ele não mais atendia o ex-deputado investigado, Riva o mandava mensagens dizendo que precisava de dinheiro para fazer uma cirurgia, mesmo com essa “desculpa”, segundo Mendonça, nada mais foi emprestado.
“Como eu ia emprestar dinheiro, se ele me deve até hoje quase R$ 6 milhões? Ele emprestou por último uma quantia de R$ 5 milhões, assegurados em notas promissórias. Desse total ele me pagou apenas três parcelas de R$ 420 mil. Se for corrigido com o juros atual, chega a quase R$ 6 milhões de dívida”, completou o agiota, que também fez empréstimos a Sérgio Ricardo, na época deputado e hoje conselheiro no Tribunal de Contas do Estado, e o deputado Mauro Savi (PR).
Todas as transações feitas por Mendonça ao então deputado José Riva foram feitas pela Globo Fomento, empresa registrada no Banco Central como financeira, em Várzea Grande. Apenas o último empréstimo de R$ 5 milhões que foi feita por Mendonça a José Riva foi feito no Bic Banco.
A investigação do Ministério Público é para saber se todo esse dinheiro emprestado por Júnior Mendonça ao Riva foi de falcatruas feitas na Assembleia Legislativa. Por enquanto a defesa de Riva afirma que o dinheiro foi para uso pessoal. “O dinheiro não tem porque ser de uso criminoso. Ele emprestava para uso pessoal e pagou tudo”, disse o advogado Valber Mello.