Cidades do interior de Mato Grosso passaram a ser epicentro do coronavírus no território. No início de abril, estes municípios concentravam apenas 23% dos casos de covid-19, quando 77% estavam na região metropolitana. Desde o mês passado, a situação começou a se reverter, mostrando o interior com maior contaminação. No início de julho, essas cidades passaram a corresponder por 71% dos infectados. Os óbitos no interior também cresceram, alcançando 70%. Os dados foram divulgados em boletim epidemiológico do Ministério da Saúde (MS) nesta quinta-feira (9).
Professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Emerson Soares dos Santos cita que, inicialmente, os casos surgiram na região metropolitana, depois, propagaram-se aos polos regionais e, logo, para cidades do interior. “De fato ocorreu a interiorização da doença. Isso é muito preocupante, pois estas cidades não contam com serviços médicos de média e alta complexidade’.
Emerson destaca que, caso os pacientes do interior tenham o quadro de covid agravado, precisam ser levados a outras cidades. Muitas vezes, a distância percorrida para conseguir um atendimento é longa. O professor cita cidades da região leste do Estado, onde pacientes percorrem até 700 quilômetros por atendimento. Soares explica que a interiorização ocorreu primeiro pela difusão possibilitada com a ligação das cidades. Chegando ao interior, a difusão foi possibilitada pelas relações sociais nos municípios.
“Se houvesse vigilância adequada e acompanhamento, não estaria neste cenário. O ideal era que se fizesse testagem para identificar casos e interromper o ciclo de contágio. Essa propagação no interior aconteceu exatamente pelo não acompanhamento”, reforça.
Presidente do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde de Mato Grosso, Marco Antônio Noberto Felipe frisa que, de fato, o crescimento de casos de covid nas cidades do interior tem sido alarmante. Mas, que os secretários de Saúde têm trabalhado no sentido de testar maior número de pessoas e acompanhar infectados, rompendo ciclo de contaminação. A maior preocupação, relata Marco Felipe, é exatamente a ocupação de leitos de Unidade de Terapia Intensiva e o agravamento muito rápido dos casos.
Neste sentido, o maior apelo tem sido para que a população entenda a gravidade do vírus. “A situação está cada vez mais desesperadora. Precisamos que a população cumpra o papel. Mas chega a um momento que sentimos impotentes tentando conscientizar, sem resultado’, complementa.