Odebrecht revela que cervejaria bancou esquema com dirigentes do PT de MT

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Segunda, 17 Abril 2017 | FolhaMax
O ex-executivo da empreiteira Odebrecht, Luiz Eduardo da Rocha Soares, afirmou em delação premiada referente a operação “Lava Jato” que o esquema de propinas envolvendo a cervejaria Itaipava e sua empresa, além de abastecer o “caixa 2” de políticos, também foi utilizado para o pagamento de um dossiê falso contra o então candidato ao governo de São Paulo em 2006, José Serra (PSDB). 
O caso na época ficou conhecido como o “Escândalo dos Aloprados”, e envolvia membros do PT e empresários de Mato Grosso.
O esquema tinha início após a sonegação de impostos da Itaipava, que repassa os tributos ao governo de acordo com a medição de um aparelho instalado nas tubulações da fábrica, e que mede a quantidade de cerveja produzida. A empresa fazia uma espécie de “desvio” no duto, de forma que boa parte de sua produção não era contabilizada e, consequentemente, não entrava no cálculo do imposto.
A venda da cerveja que não recolhia impostos – fato que para os órgãos fiscalizadores fazia com que a bebida, oficialmente, “não existisse” -, abastecia o chamado Caixa 2 (dinheiro não contabilizado e declarado de campanhas eleitorais) de políticos num acordo realizado entre o proprietário da cervejaria Petropólis, detentora da marca Itaipava, Walter Faria, e outro ex-executivo da Odebrecht, Benedicto Junior.
Em Mato Grosso, a Cervejaria Petrópolis tem fábrica na cidade de Rondonópolis. Ela é a maior detentora de incentivos fiscais no Estado e colabora com campanhas políticas.
O dinheiro pego pela Odebrecht da venda de cerveja não declarada da Itaipava era depositado numa conta da empreiteira num banco em Antígua, no Caribe, como forma de “mascarar” a origem dos recursos. Os delatores da empresa afirmam que em torno de US$ 100 milhões teriam sido movimentados com o esquema, que utilizava esses valores para o financiamento de campanhas de políticos no Brasil.
Porém, parte desses recursos, segundo Luiz Eduardo da Rocha Soares, também foi utilizado para a “compra” de um dossiê falso contra o então candidato a governador de São Paulo em 2006, José Serra (PSDB), que acabou vencendo as eleições naquele ano.
O referido dossiê associava o nome de José Serra na chamada “Operação Sanguessuga”, ou “Máfia das Ambulâncias”, como também ficou conhecida. Deflagrada pela Polícia Federal (PF) em maio de 2006, a operação investigava a atuação de um grupo liderado pelos empresários Darci José Vedoin  e Luiz Antônio Trevisan Vedoin, pai e filho, ambos de Mato Grosso, num esquema de pagamento de deputados e senadores que, mediante propina, destinavam recursos de emendas parlamentares que eram utilizadas no superfaturamento da compra de ambulâncias e materiais hospitalares.
Luiz Eduardo Soares, o delator da Odebrecht, confirmou que o dinheiro proveniente do esquema de sonegação de impostos da Itaipava foi repassado ao tesoureiro da campanha de Alexandre César (PT) a prefeitura de Cuiabá em 2004, Valdebran Carlos Padilha. Ele foi preso em flagrante em setembro de 2006 com US$ 109,8 mil e mais R$ 758 mil em dinheiro, no caso que ficou conhecido como “Escândalo dos Aloprados”.
Ao ser indagado sobre o episódio envolvendo a compra do dossiê falso – que seria vendido pelos empresários Darci e Luiz Antônio Vedoin -, o ex-presidente Lula minimizou a questão, afirmando que os petistas envolvidos, caso de Valdebran Carlos Padilha, eram um “bando de aloprados”, termo que foi utilizado para se referir ao esquema criminoso.
Luiz Eduardo Soares afirmou que um dia após a prisão de Valdebran, em setembro de 2006, o tesoureiro da campanha de Lula em 2006, José de Filippi, teria convocado uma reunião de emergência no comitê do PT em São Paulo. Participaram do encontro o proprietário da Itaipava, Walter Faria, e então presidente da Odebrecht, Benedicto Junior.
"Nós fomos tomados de surpresa na operação dos aloprados. BJ me ligou dizendo que tinha dado um grande problema e que precisava de minha ajuda", disse o delator. Walter e Benedicto temiam que as investigações associassem o nome da Itaipava ao caso, uma vez que alguns maços do dinheiro apreendido possuíam o rótulo da Leyroz de Caxias, uma distribuidora da cervejaria Petrópolis, utilizada no esquema de propinas envolvendo a empresa de bebidas e a construtora.
"Como nós tínhamos essa operação que já tinha começado, de troca de reais por dólar, eles estavam com medo, porque descobriram que uma parte desse dinheiro estava com o timbre da Leyroz de Caxias. Mostrava que isso era da cervejaria Itaipava", disse Soares.
O delator da Odebrecht afirma que José de Filippi, que também é ex-prefeito de Diadema (SP), sabia que o dinheiro repassado a Valdebran Carlos Padilha seria utilizado para compra do dossiê falso.

 

 
 
 
 
 
 
 
 
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