O deputado estadual Mauro Savi (PSB) comprou uma fazenda de R$ 1,5 milhão na cidade de Alta Floresta (812 km de Cuiabá) utilizando cheques de Claudemir Pereira dos Santos, um dos sócios da Santos Treinamento, empresa que faria parte de um esquema de lavagem de dinheiro e desvios de recursos no Detran de Mato Grosso. A informação consta do depoimento do advogado Roberto Zampieri à Delegacia Especializada em Crimes Fazendários e Contra a Administração Pública (Defaz-MT), proferido no âmbito da operação “Bereré”, que investiga as fraudes.
De acordo com informações que constam no depoimento, tomado no último dia 3 de março, Roberto Zampieri é advogado de José Donizete Rodrigues, dono de algumas propriedades rurais no Estado, e que também é corretor de imóveis rurais. Zampieri teria sido procurado por Rodrigues para propor uma ação judicial contra a Agropecuária Mogno S.A. em razão da intermediação da venda da Fazenda Mogno, onde ele também atuou como corretor. Após 14 anos do trâmite do processo, em 2014, a Justiça deu ganho de causa a Rodrigues, que por sua vez repassou parte do imóvel rural a Zampieri pelo pagamento de honorários advocatícios. “Passando o depoente a ser proprietário de 2.400,00 hectares ao passo que José Donizete Rodrigues adjudicou (cedeu) a área de 8.100,00 hectares da fazenda Mogno”, diz trecho do depoimento.
Em seguida, Roberto Zampieri afirmou que Donizete, em 2014, disse que tinha conseguido encontrar os compradores da propriedade rural: Irney Milani e o deputado estadual Mauro Savi. O negócio foi realizado em julho daquele ano.
“O depoente se recorda que se reuniu no gabinete de Mauro Savi, situado na Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso, juntamente com Irney Milani e José Donizete Rodrigues para discutir os termos do negócio que foi finalizado com o contrato dito acima [...] Que o valor total da venda foi de R$ 1.500.000,00, ficando para o depoente R$ 800.000,00 e para José Donizete o restante, sendo que a parte do depoente da propriedade que ganhou através de seus honorários ficaram pelo valor de R$ 800.000,00 que recebeu desse negócio”, relata o depoimento.
Na sequência, Zampieri confirma que o pagamento pela propriedade rural foi realizado por meio cheques assinados por Claudemir Pereira dos Santos, sócio da Santos Treinamento. “O depoente se recorda que foi pago através de vários cheques de terceiros que lhe foram entregues por Mauro Savi, se recordando de ter recebido das mãos de Mauro Savi cheques de Claudemir Pereira dos Santos, apelido de ‘grilo’, que era chefe de gabinete de Mauro Savi”, narra o advogado.
Zampieri afirma ainda que repassou parte dos cheques para a Invest Fomento, de propriedade de Francisco Carlos Ferres, “em uma operação de fomento”. Após o episódio, o genro de Ferres teria se dirigido a Assembleia Legislativa de Mato Grosso para verificar a origem dos cheques junto ao deputado estadual Mauro Savi, que confirmou sua procedência. “O depoente se recorda que ao apresentar os cheques de Claudemir Pereira dos Santos para Francisco Ferres, se recorda que Trajano, genro de Francisco, foi até a Assembleia Legislativa conversar com Mauro Savi para verificar a origem dos cheques de Claudemir, tendo Mauro confirmado que os cheques eram oriundos da venda fazenda”.
BERERÉ
Deflagrada no dia 19 de fevereiro de 2018, a operação Bereré, do Ministério Público Estadual e da Delegacia Especializada em Crimes Fazendários e contra a Administração Pública (Defaz-MT), desbaratou uma quadrilha que lavava dinheiro e desviava recursos públicos por meio de empresas que prestam serviços ao Detran-MT. O bando agia desde 2009 e teria desviado em torno de R$ 1 milhão por mês.
Os principais alvos da operação são os deputados estaduais Eduardo Botelho e Mauro Savi, ambos do PSB, além do ex-deputado federal Pedro Henry. As investigações tem como base os depoimentos de colaboração premiada do ex-presidente do Detran-MT, Teodoro Lopes, o “Doia”, além do empresário Rafael Yamada Torres, outro delator do esquema.
Segundo as investigações, a Santos Treinamento e Capacitação é uma empresa fantasma que já teve entre seus sócios o presidente da AL-MT, Eduardo Botelho (PSB). A organização recebia recursos desviados da FDL Serviço de Registro, Cadastro, Informatização e Certificação de Documentos, que realiza junto ao Detran-MT o registro de financiamentos de veículos em alienação fiduciária.
Um dia depois da deflagração da operação, em 20 de fevereiro, Eduardo Botelho admitiu que conhecia a fraude e se disse “arrependido” de não ter deixado o quadro societário assim que soube do esquema, em 2011.
O desembargador do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJ-MT), José Zuquim Nogueira, determinou no dia 16 de fevereiro de 2018 o sequestro de R$27.722.877,38 de 17 pessoas, entre físicas e jurídicas, envolvidas no esquema de lavagem e desvio de dinheiro no Detran de Mato Grosso. De acordo com o despacho do magistrado, o recurso era “desviado” do órgão para “retirar-lhe a sujeira que cobre a sua origem”. Entre as pessoas atingidas pela medida estão os deputados estaduais Eduardo Botelho, Mauro Savi, o ex-deputado federal Pedro Henry, além de sócios e lobistas que participaram do esquema.