Para empresário, controle de cheias pela represa de Manso acabou com os peixes do Rio Cuiabá

Imprimir
+ Cotidiano
Segunda, 24 Março 2014 | NELSON SEVERINO, DO HÍPER NOTÍCIAS
Engenheiro acredita que controle de cheias pela represa de Manso acabou com os peixes do Rio CuiabáEngenheiro acredita que controle de cheias pela represa de Manso acabou com os peixes do Rio Cuiabá
A formação da represa da Usina Hidrelétrica de Manso, transformada depois em APM (Aproveitamento Múltiplo de Manso), cujas obras iniciadas em 1981 ficaram paradas por dez anos e foram concluídas em 2002, com o principal objetivo de controlar os períodos de cheias e secas do Rio Cuiabá e não para explorar o seu potencial energético de 210 megawatts em quatro turbinas, acabou com os peixes do Rio Cuiabá.

A opinião é do engenheiro civil Samir Saddi, desde 1972 vivendo às margens do Rio Cuiabá em Santo Antonio de Leverger, onde tem o Restaurante e Marina Gaivota, um dos mais antigos da cidade e muito frequentado, principalmente nos finais de semana.

Sua explicação para o sumiço dos peixes do Rio Cuiabá por culpa da represa de Manso: sem as cheias que ocorriam todos os anos no Pantanal Mato-grossense, em menor ou maior escalas, como as de 1942, 59, 74 e 94, os peixes que se refugiavam nos campos da maior planície alagadiça do mundo, com seus 52 mil km2, além de pequenos rios, riachos, lagos e baías, ficaram a mercê de todos os tipos de predadores.
A fartura de todas as espécies era tanta, inclusive de grandes bagres como pintado, cachara, jaú, barbado, que os ribeirinhos pantaneiros utilizavam flechas e pedaços de paus para “caçar” peixes nos campos alagados onde as espécies de maior porte ficavam protegidas de predadores e se alimentando de frutas dos cerrados. Esse tipo de “caça” ocorria geralmente quando as águas baixavam muito rápido e os peixes não conseguiam voltar para o canal dos rios. 

Sem um lugar seguro, como a gigantesca planície pantaneira, para se proteger e crescer, os peixinhos que conseguem sobreviver à poluição do Rio Cuiabá, cujas águas estão altamente contaminadas por resíduos de agrotóxicos de lavouras de soja e algodão e dos esgotos que são despejados no curso d’água sem nenhum tratamento, acabam se transformando em presas fáceis de predadores do seu canal. 

Até a década de 80, a abundância de peixes no Rio Cuiabá era impressionante. Tanto é que era considerado um dos mais piscosos do Brasil, conforme depoimento inclusive de um irmão de um ex presidente da República do período revolucionário e que almoçou no Gaivota faz muito tempo. Ele afirmou que já havia pescado em todos os rios brasileiros e em alguns dos quais o acesso só era possível de helicóptero, e em nenhum deles havia tanto peixe como no Cuiabá.

MUDANÇAS DE HÁBITOS ALIMENTARES DOS PEIXES DE ESCAMA

Atento as mutações que o Rio Cuiabá vem sofrendo nos últimos anos, Saddi tem notado, inclusive, mudanças nos hábitos alimentares das espécies de escama – piraputangas, pacus, piaus, piavuçus (a pesca do dourado está proibida por lei) etc. É que com a proliferação de pesqueiros nas duas margens do rio, a partir de Santo Antonio de Leverger, essas espécies passaram a comer milho e soja, que são colocados em sacos nas imediações de estrados construídos sobre tambores que avançam sobre as águas, fazendo as chamadas cevas, que atraem os peixes, tornando mais fácil a captura.
A concentração desses alimentos nas células das espécies de escamas está provocando mudanças no sabor de suas carnes. Resultado: os mesmos consumidores que antes não queriam nem saber de peixes criados em cativeiros, quando vou comer pacu no restaurante de Saddi querem saber se o peixe é de rio e ou de piscicultura. Se for de rio, ninguém quer.

"Eu nem me lembro quando foi a última vez que eu fiz um pacu de rio aqui. Mas faz muitos anos... ", diz Saddi.

Para o empresário, que faz a medição diária do curso d’água que passa por diversos municípios antes de desaguar no Pantanal Mato-grossense, a Eletronorte devia aumentar o volume de águas do Rio Cuiabá, a partir de novembro, quando começa o período de desova nos rios do Estado. Para Saddi, a retenção das águas na represa formada em 90% pelas águas dos rios Manso e da Casca em nada contribui para proporcionar condições favoráveis à reprodução e sobrevivência das espécies que vivem nos rios de Mato Grosso. 

 

 
 
 
 
 
 
 
 
Joomla 1.6 Templates designed by Joomla Hosting Reviews