A onça pintada é o assunto principal da reportagem da série sobre o Rio Paraguai. O Globo Rural percorreu o rio desde as nascentes em Mato Grosso até a foz, no Rio Paraná. Um dos lugares conhecidos foi a Reserva Taiamã, que fica no Pantanal e onde foi possível registrar o momento de acasalamento da onça.
A viagem de barco pelo Rio Paraguai começa no coração do Pantanal. Partindo de Cáceres, a distância de barco até a divisa com Mato Grosso do Sul é de cerca de 350 quilômetros. Após o trecho de planalto, em que as águas são um pouco mais rápidas, o rio caminha vagarosamente quando chega à planície pantaneira. As águas lentas do Rio Paraguai se devem à pequena declividade do terreno, de três centímetros por quilômetro.
A Estação Ecológica Taiamã, um lugar conservado e com nome de um pássaro do Pantanal, foi criada em 1981 para proteger 11,5 mil hectares de natureza exuberante do lugar. Esse é um refúgio para pássaros, répteis e mamíferos como a onça pintada. De acordo com o biólogo Daniel Kantek, já foram identificadas 27 onças no local.
Na região em volta da reserva foi possível registrar o momento incrível das queixadas atravessando o Rio Paraguai em fila, um grupo composto por uma família inteira. Tinha marrã, porca parida, goiaca varrão e filhotama, todos entretidos na travessia.
Gaúcho de origem alemã, Cícero Kurtz participa diretamente de dois momentos de mudanças na beira do Rio Paraguai: a criação da profissão guia de turismo para avistamento de onça e da abertura de uma nova forma de fotografar e filmar onça. Antes, bastava uma imagem da onça. Hoje em dia, é preciso que o animal esteja expondo algum comportamento.
Em uma cena rara, a equipe de Kurtz conseguiu registrar o momento das onças cruzando. Nem mesmo o converseiro do pessoal no barco tirou a concentração dos animais. No fim, entre cansada e satisfeita, a fêmea vai dormir em um galho da figueira. O macho se escondeu no mato. Um casal de onça pode cruzar até 80 vezes em um dia. A prenhes demora cerca de cem dias e nasce uma média de dois filhotes.
Com a proibição da caça e uma fiscalização mais presente, as onças se multiplicaram na região. Onça come capivara, come cateto, jacaré e ave. Ser humano não faz parte da dieta da onça. No entanto, na região foram registrados dois ataques de onça, com um mortal.
Um dos casos foi a morte do Alex, de 21 anos. O rapaz e o pai iam sempre a um ponto do rio para pegar isca de pescaria para vender. Como o lugar é de onça, eles trabalhavam sempre em dupla. Uma noite, o pai foi ao rio atrás de isca e o rapaz ficou dormindo no acampamento. Quando o pai voltou, a onça estava com o rapaz. Outra vítima, que escapou do ataque com a ajuda de um cão, ganhou o apelido: Beto Resto de Onça.
Na verdade, em muitas ocasiões, o turismo de observação tem trilhado um caminho perigoso para o homem e para a onça. Um vídeo amador documenta a imprudência acima de todos os limites.
Na divisa de Mato Grosso com Mato Grosso do Sul, um grupo de pescadores avista uma onça fêmea e encosta o barco na margem. Para conseguir uma imagem melhor, os homens jogam peixe para onça se aproximar. De repente, houve um susto. Era um casal, macho e fêmea, a poucos metros de distância do grupo. A onça vem em direção ao grupo e os pescadores dão risada. Outro exemplo de imprudência é momento em que um pescador resolve limpar o mato para filmar melhor. O macho vem novamente atrás dos peixes e outro susto. No final, os pescadores tiveram muita sorte de sair vivos.
Por mais que estejam se acostumando à presença humana, as onças não deixam de ser animais selvagens. Fazer aproximação sem guia profissional e sem cuidado é expor a onça e as pessoas a um risco muito alto.