Garimpeiros que vieram de Fusca do Pará dizem-se arrependidos da aventura
A estrada para chegar até o comentado ouro de Pontes e Lacerda (distante 447 quilômetros de Cuiabá) guarda muitas histórias, como a de três homens que saíram de Redenção (cidade distante a 900 quilômetros de Belém, no Pará), e viajaram por três dias dentro de um Volkswagen Fusca até chegar na Serra do Caldeirão. "Se arrependimento matasse, nós três hoje seríamos homens mortos", disse um deles ao chegar no garimpo mais comentado do país.
Arisilvio, Santana e José. Este último não quis nem sair na foto, por vergonha da família e dos amigos. Ele já sabe que não vai conseguir seu objetivo. "Fizemos as contas, estamos há três dias na estrada, o carro quebrou três vezes, gastamos o que tínhamos porque acreditamos na história dos outros. Literalmente, tô ferrado", disse o homem que abandonou o trabalho de ajudante de obras, que lhe rendia R$ 1.200 por mês, para tentar a sorte no garimpo.
Para os três, a história apresentada não existe. "Quando eu saí de casa, me falaram que aqui nem precisava escavar. Era só chegar e pegar o ouro, praticamente. Emprestei mil reais a 10% de juros. Arrumei meu Fusca e vim. Ele quebrou três vezes. Passamos três noites e a nossa ferramenta mais nova é uma picareta. Aí chego aqui e vejo motores, máquinas, marteletes e um morro que só pra subir é preciso duas horas, porque o terreno é muito arenoso. Não sei o que fazer, pois não tenho dinheiro para voltar e tô devendo muito", comentou Arisilvio, que era mototaxista em Redenção.
O mais velho dos três é Santana, que tem quase 70 anos e já teve sua cota de garimpos. Ele esteve em Serra Pelada e é o único do grupo com experiência na extração de ouro. Para ele, comparar Mato Grosso com Serra Pelada é brincadeira. Santana se recorda de ter ganhado muito dinheiro no garimpo, mas assim como veio fácil, foi fácil.
"Me falaram que aqui parecia a Serra Pelada no Pará. Nunca. Aqui é uma serrinha pequena, que já pegaram o que tinha e estão indo embora. Eu cheguei tarde e perdi a época boa. Tô arrependido de vir. Me endividei e agora é sentar e tentar ter uma sorte de pegar algumas pepitas. Mas agora vou guardar, porque já cheguei de gastar quase R$ 1 milhão em três meses", contou Santana, que preferiu não dizer como gastou o dinheiro ao saber que matérias de site podem ser lidas no mundo todo.
Um dos motivos que mantêm o garimpo da Serra do Caldeirão lotado é a crise econômica que assola o país. "Eu ganho 500 contos por mês. Tenho que dar de comer a mulher e filho. Moro numa biboca e vim logo tentar meu ouro, mas caí do cavalo. De verdade, a crise ajudou a lotar o garimpo. Todo mundo quer pagar conta e guardar um dinheirinho, mas, no nosso caso, se arrependimento matasse, nós três hoje seríamos homens mortos", completou o homem, já com lágrimas nos olhos.