Atitudes simples e diárias ajudam na conservação da água
Enquanto a crise hídrica se aproxima cada vez mais do país e do mundo, a mestre em Filosofia e especialista em Educação Ambiental, Josita Priante, 65 anos, resolveu fazer diferente. Desde 1998 ela, o marido e os seis filhos resolveram fazer a reutilização da água usada para enxaguar as roupas. O primeiro impacto foi na conta: 82% de economia, já que a média de consumo que era R$ 150 mensal baixou para R$ 27, o equivalente a R$ 1,4 mil por e a mais de R$ 25 mil nos últimos 18 anos.
O sistema de reutilização de Josita funciona da seguinte forma: a água de enxágue de roupa é enviada por uma bomba para uma caixa de mil litros situada no alto da residência. Essa água é utilizada especificamente para atender a descarga sanitária dos três banheiros da casa que possuem 180 m². “Tivemos essa ideia porque eu não tinha água todos os dias e sempre lavava roupa devido às crianças terem que ir para escola. Então, decidi adotar outros hábitos que contribuíssem para manutenção da água em casa”.
Ela confessa que sempre foi apaixonada pelas questões ambientais e por isso não parou por aí. Como seu lote tem uma área de mais de 2 mil m² e uma vasta quantia de árvores, entre elas pés de caju, manga, jabuticaba e banana, além de plantas medicinais e nativas, ela notou que isso geraria mais gasto de água. Para reparar a situação, Josita e seu marido Nicolau Priante, de 67 anos, doutor em engenharia mecânica, resolveram colocar calhas no telhado para coletar água da chuva e transformaram a piscina da família em uma cisterna para irrigação das plantas. “Isso traz uma satisfação muito grande para mim, já que contribuo com a preservação do meio ambiente e ainda promovo economia financeira”, explica Nicolau.
Ideias sustentáveis
O sistema de reutilização de água de enxague de roupa criado por esse casal de mato-grossenses foi divulgado para mais de 150 países por meio da agenda Ministério das Relações Exteriores como "uma das principais inovações tecnológicas brasileiras em 2005" e foi finalista do Prêmio de Tecnologia Social da Fundação Banco do Brasil no mesmo ano. “Tudo isso foi muito importante para podermos propagar o quanto a água tem uma dimensão vital e ética que precisa ser cultivada”, acrescenta Nicolau.
A empresária Dilamar Coutinho, 58 anos, também pratica em seu cotidiano hábitos sustentáveis a fim de evitar a escassez da água no país. Ela se orgulha de não lavar carro com água da mangueira e nem a área de sua casa, apenas passa pano úmido. Ao lavar louça ela utiliza pouco tempo, cerca de 10 a 15 min, e enxagua todas de uma vez, para evitar o desperdício. A empresária também cronometra o tempo de banho. “A sustentabilidade em sua amplitude engloba muitas coisas. Não preciso fazer nada de extraordinário para contribuir com o meio ambiente, são as pequenas atitudes que fazem a diferença. Se todos cooperaram no fim das contas vamos ter um grande resultado”.
Para onde vai o meu lixo?
De acordo com o superintendente de recursos hídricos da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema), Nédio Pinheiro, para alcançar um melhor resultado que impacte na preservação da água é necessário interligar ações de economia diárias com o descarte correto de resíduos. “Não dá para ter uma atitude isolada da outra. Quanto mais contaminados o solo mais poluímos os rios. Por isso hábitos saudáveis vão desde desligar o chuveiro enquanto ensaboa o corpo até fazer coleta seletiva e jogar lixo em lugares adequados”.
Nédia explica que em consequência às mudanças climáticas, a crise hídrica tende a piorar nos próximos 30 a 50 anos devido a diminuição das chuvas. E para sobressair diante dessa realidade ele orienta as pessoas a mudarem o modo de vida. “A água é um bem finito que precisa ser usada com consciência. E só vamos conseguir chegar nesse patamar com boas práticas e colaboração de todos”.
Faça em casa
O sistema de reuso de água do casal Priante começou de forma artesanal e simples, mas com o passar dos anos eles modernizaram e construíram outro que custou R$1,7 mil. A engenheira sanitarista, Eliana Rondon, explica que qualquer pessoa pode desenvolver um sistema deste, basta disposição. “A água utilizada de enxágue de roupa tem mil e uma utilidades. Pode ser usada, por exemplo, para regar jardim, lavagem de piso, molhar a rua, entre outras coisas”.
Outra dica é que dá para trocar a válvula da encanação por dispositivo de controle. Segundo Eliana, a válvula gasta de seis a 12 litros de água, enquanto o dispositivo consome 3 litros. Ela orienta também que durante o dia a dia a pessoa se policie para desligar a torneira enquanto escova os dentes, feche o registo durante o banho e ainda dê um fim no pinga-pinga da torneira.
Economize água
Outras dicas são: lavar o carro usando balde ao invés da mangueira (uma economia de até 500 litros em meia hora); diminuir o tempo no chuveiro (5 minutos significam menos 80 litros); encher a pia ou uma bacia para esfregar pratos e talheres (são 10 litros economizados/dia); não usar mangueira para varrer o quintal e sim a vassoura; observar se há vazamentos em canos, torneiras e descargas do banheiro; utilizar a máquina de lavar sempre cheia e se possível reutilizar a água para lavar o quintal.
População x consumo
A produção de água doce no planeta é estável porém, o consumo vem aumentando em nível superior ao crescimento populacional. No século 20, a população mundial cresceu 4 vezes, enquanto o consumo de água cresceu 7 vezes. Atualmente, há mais de 1 bilhão de pessoas sem suficiente acesso à água para consumo doméstico e, estima-se, que em 30 anos haverá 5,5 bilhões de pessoas vivendo em áreas com moderada ou séria falta d'água. Os aspectos de demanda e de escassez de água estão relacionados ao crescimento demográfico, à escala das atividades econômicas e à capacidade de suporte dos recursos naturais. Cabe ao Governo do Estado e à Sema promover as políticas públicas necessárias para garantir que Mato Grosso mantenha suas reservas de água adequadas.