O casal Simião Inácio Bezerra e Elimar da Silva Campos está vivendo, junto com os dois filhos pequenos, debaixo de uma lona, à beira da BR-158, no Médio Araguaia, desde janeiro deste ano.
Sobrevivem de doações e não têm para onde ir. Eles fazem parte do grupo de cerca de sete mil pessoas que perderam suas terras e casas na desocupação da área indígena Marãiwatsédé, na região da antiga Gleba Suiá Missú, a 1.064 quilômetros a Nordeste de Cuiabá.
A situação é tão grave que há relatos de oito suicídios cometidos por moradores da região.
Pessoas que foram despejadas de suas casas protestam em ato público (Ascom/Famato)
“Estamos vivendo um dia de cada vez. Tínhamos casa e trabalho, agora não sobrou mais nada”, disse Simião.
Os dois estiveram em Brasília, na quarta-feira (8), juntamente com outras 400 pessoas que saíram de Mato Grosso para participar da audiência pública na Câmara dos Deputados, que debateu as demarcações de terras indígenas (TIs), conduzidas pela Fundação Nacional do Índio (Funai).
Seis ônibus com produtores rurais, comerciantes e a sociedade em geral dos municípios de Nova Nazaré, Alto da Boa Vista, Porto Alegre do Norte, Ribeirão Cascalheira e Juína estiveram presentes, mobilizados pela Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato) e Sindicatos Rurais.
Ao todo, cerca de 1.600 pessoas dos Estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná e Bahia participaram do ato.
Rosana Maria de Faria e Adécio de Faria tinham uma vida estruturada na localidade de Posto da Mata, em Alto Boa Vista, onde moravam há mais de 15 anos.
“Estamos em situação de calamidade. Não temos mais casa, perdemos tudo. Estamos morando de favor depois de ter nossa pequena propriedade e comércio em Posto da Mata arrancados de nós. Esperamos que a PEC 215 seja aprovada, pois só assim teremos segurança de que não perderemos mais nossas terras”, disse Rosana.
Aproximadamente 300 pessoas que foram despejadas de suas casas e propriedades na área de 165 mil hectares entre os municípios de Alto Boa Vista, Bom Jesus do Araguaia e São Félix do Araguaia, que foi considerada Terra Indígena Marãiwatsédé, estão vivendo em barracas improvisadas, à beira da BR-158, desde o início deste ano.
“Vivemos à beira da estrada e dependemos de doações das pessoas e caminhoneiros que passam. Perdemos a esperança e a vontade de viver”, conta emocionado o agora ex-pequeno produtor José Antônio, que também teve que deixar a propriedade da família, onde produziam desde 1992.