Empreiteiro diz que obras do VLT e trincheiras são inseguras
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Domingo, 07 Setembro 2014
| Midia News
Falta de projetos básicos, falha no cálculo de cargas, não atendimento de normas técnicas, inadequação de materiais e possibilidade de rupturas e desmoronamentos.
Em depoimento ao Ministério Público Estadual, um empreiteiro que prestou serviço em obra do VLT e de três trincheiras da Avenida Miguel Sutil, afirma que os usuários estão correndo risco.
O alerta foi feito em julho passado pelo geólogo José Seixas da Silva, proprietário da empresa Soloenge Geologia de Engenharia e Meio Ambiente.
Ouvido em audiência pelo promotor Gerson Barbosa, Silva disse que tentou executar os trabalhos de forma correta, mas se deparou com graves problemas.
Em um destes serviços, a Soloenge foi contratada pelo Consórcio VLT Cuiabá Várzea Grande para instalar tirantes (estruturas de sustentação feitas em aço) na obra da trincheira do Zero Quilômetro, em Várzea Grande.
No canteiro da obra, Silva disse ter descoberto que inexistiam projetos para a realização de testes de capacidade de carga (arrancamento), dimensionamento de equipamentos e de cálculo e intervalos de carga.
"Para todos os temas citados, não houve projetos; como consequência, a comunidade não tem garantia da segurança do VLT, porque a estrutura pode não suportar o peso dos trens e apresentar fraturas, quebras e rompimentos", disse.
O empreiteiro apresentou fotos e vídeos feitos na obra que, segundo ele, mostram a péssima qualidade dos drenos, que foram mal instalados e mal dimensionados (...) o que pode ocasionar pressão no concreto, com trincas, queda de placas e desmoronamento.
"Apesar dos problemas, a supervisora da Secretaria Extraordinária da Copa do Mundo liberava as obras", disse.
Um dos registros em vídeo mostra um teste no qual os tirantes da obra se deslocam até três centímetros após a aplicação da carga projetada para as paredes da trincheira.
"Pelo vídeo, constata-se que o tirante está completamente condenado, pois os deslocamentos foram superiores a 0,1 milímetro", afirmou o empreiteiro.
Silva relatou que sua empresa também foi contratada pela Ster Engenharia para elaborar os programas de estabilidade de encostas nas trincheiras Mário Andreazza, Verdão e Santa Rosa.
O trabalho consistia, de acordo com o depoimento, em identificar, antes do início das obras, os pontos frágeis do meio físico local e, a partir deles, definir um plano de monitoramento.
No entanto, este programa não foi executado, disse o empreiteiro, que afirmou estar preocupado como cidadão. Até prova em contrário, todos os usuários estão correndo risco.
Em razão do suposto descumprimento de normas, o empreiteiro disse que estuda meios legais para cancelar a ART (Anotação de Responsabilidade Técnica) que assinou em relação às obras das trincheiras da Miguel Sutil. E que, se não for comprovada a segurança dos tirantes, fará o mesmo em relação à trincheira do Zero Quilômetro.
Procurado pela reportagem do DIÁRIO, o secretário Maurício Guimarães (Secopa) apenas confirmou que a Soloenge prestou serviço para o Consórcio VLT e a empreiteira Ster Engenharia, mas disse que não teve acesso ao depoimento do seu representante ao MPE e que não poderia comentar o assunto.