Procuradoria-Geral da República denunciou nesta quarta (2) o ministro da Agricultura Blairo Maggi por ter, em 2009, quando era governador, supostamente ter participado do esquema de compra e venda de vagas no Tribunal de Contas. Um dos beneficiados foi Sérgio Ricardo, que está afastado do cargo de conselheiro. Ele foi denunciado pela prática de corrupção ativa e por lavagem de dinheiro.
No caso do ministro, a denúncia é por corrupção ativa, praticada duas vezes. Há ações, contra outras pessoas, na primeira instância da Justiça Federal. Na denúncia, a procuradora-geral da República Raquel Dodge descreve a atuação da organização criminosa instalada no alto escalão do Executivo e Legislativo de Mato Grosso.
O caso começou a ser investigado em 2014, na Operação Ararath. Entre as irregularidades já identificadas e provadas, segundo a PGR, está a negociação de cadeiras no TCE. Por ser vitalício e pelas vantagens que oferece, o cargo sempre gerou cobiça entre os políticos do estado.
Para o órgão fiscalizador, ficou provado que o então conselheiro Alencar Soares recebeu dinheiro para que ele se aposentasse. A medida foi efetivada em 2012 e permitiu a indicação do ex-deputado estadual Sérgio para a corte de contas. Em troca da aposentadoria (ato de ofício) Alencar teria aceitado propina de cerca de R$ 12 milhões.
Na peça encaminhada ao relator do caso no Supremo são mencionados detalhes dos acordos que envolveram mudança de planos na cúpula da organização criminosa e até a devolução de parte da propina pelo então conselheiro. Em 2009, após receber adiantamento de R$ 2,5 milhões de Sérgio Ricardo, Alencar teria aceito outra proposta do então governador (Blairo) e de seu secretário de Fazenda (Éder Morais) para continuar no cargo.
Como recompensa, "recebeu bônus de R$ 1,5 milhão". De acordo com a denúncia, naquele momento, foram repassados R$ 4 milhões ao conselheiro, que recebeu autorização para ficar com o saldo da devolução.
O objetivo desse novo acordo era assegurar que Éder e não Sérgio fosse indicado para o TCE. De acordo com provas, que acompanham a denúncia, essa possibilidade foi assegurada em uma reunião realizada no início de 2010.
Na época, Blairo, que estava prestes a deixar o cargo (se desincompatibilizou para se candidatar ao Senado em 2010) transferiu para o vice-governador Silval Barbosa, teria assumido o compromisso de garantir a nomeação de Eder, mas não ocorreu. Ao Ministério Público Federal, Eder disse que, “algum tempo depois, tomou conhecimento de que Sérgio e Alencar teriam voltado a negociar a vaga no Tribunal de Contas”. Disse também que não se opôs à medida porque a vaga era da Assembleia Legislativa. Sérgio Ricardo foi indicado em maio de 2012 por Silval Barbosa.
Dinheiro público
As investigações realizadas no âmbito de vários inquéritos, por meio de medidas cautelares e de depoimentos, inclusive decorrentes de colaboração premiada, não deixam dúvidas de que todo o dinheiro usado para o pagamento das vantagens indevidas saiu dos cofres públicos. Os valores foram desviados da Assembleia Legislativa ou do Executivo por meio de estratégias como contratações simuladas de serviços que jamais foram prestados. Para viabilizar os repasses o grupo contou com a atuação de Gércio Marcelino e de Sílvio César Correia Araújo, então chefe de gabinete de Silval Barbosa. Gércio, conhecido como Júnior Mendonça, é proprietário de empresas que operavam como bancos clandestinos, emprestando dinheiro a juros, exigindo garantias reais e financiando o esquema que envolvia cifras milionárias. Na denúncia, a PGR apresenta inclusive os comprovantes de depósitos, nota promissória e anotações apreendidas nas várias fases da Operação Ararath.
Para a procuradora-geral da República, Blairo Maggi praticou por duas vezes o crime de corrupção ativa. Primeiramente na compra da vaga de Alencar Soares. E, depois, em negociação parecida, mas com a intenção de fazer com que o conselheiro permanecesse no cargo. Já no caso de Sérgio Ricardo, a denúncia implica mais um crime de corrupção ativa que ocorreu após o fim do mandato de Blairo Maggi (quando efetivamente ocorreu a indicação para o cargo), e também a ocultação de vantagem ilícita. Além da condenação às penas previstas no Código Penal para os respectivos crimes, Raquel Dodge requer que seja determinada a perda da função pública e a reparação do dano patrimonial, no valor de R$ 4 milhões. Na denúncia também foi solicitado o pagamento de indenização por danos morais coletivos, acrescido de juros de mora e correção monetária pelos danos causados à imagem e à credibilidade das instituições públicas.