Ex-governador do RJ revela que ex-deputado comprou fazenda em MT com propina

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Sábado, 06 Abril 2019 | FolhaMax
Ao prestar depoimento nesta sexta-feira (5) ao juiz federal do Rio de Janeiro, Marcelo Bretas, o ex-governador daquele estado, Sérgio Cabral, disse que a corrupção no sistema de transporte público do Estado vem de longa data. E dentre os beneficiados apontou o ex-deputado estadual Jorge Picciani (MDB), que segundo Cabral, usou parte da propina recebida para comprar uma fazenda no norte de Mato Grosso.

O ex-governador relatou que o valor da propina girava entre R$ 700 mil, R$ 800 mil por mês e que a “caixinha” com os empresários de ônibus começou na década de 80. Contou que retirava R$ 300 mil para ele e fazia uma divisão com os deputados de acordo com a importância de cada parlamentar. Isso, segundo ele, no período de 1995 a 1998, sendo que em 1997 houve um momento de um valor mais substancial, que foi a extensão da permissão das linhas de ônibus.

“Como contrapartida, fizemos a cobrança de ICMS - que os estados não cobravam ICMS, no Brasil inteiro não tinha cobrança. Nós estabelecemos alíquota de 13% por ônibus na cobrança de ICMS. Isso resultou num dinheiro a mais para mim e para o deputado Picciani. Eu recebi o dinheiro, aí que eu abro a conta no New York Discount Bank com esse valor e o deputado Picciani compra a fazenda dele no Norte do Mato Grosso”, contou Sérgio Cabral. Os detalhes e trechos do depoimento foram exibidos pelo Jornal Nacional da Rede Globo.

Sobre o imóvel de Picciani em Mato Grosso adquirido com dinheiro de propina, o ex-governador não entrou em detalhes. No entanto, reportagens publicadas entre 2016 e 2018 por veículos nacionais como Estadão, O Globo e o site “De Olho nos Ruralistas”, um observatório jornalístico sobre o agronegócio, mostram que a família Picciani possui fazendas nas cidades mato-grossenses de Santa Cruz do Xingu e São Félix do Araguaia.

Cabral disse no depoimento que também veio da Fetranspor (Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro) a ajuda para a campanha de Aécio Neves à Presidência em 2014. “Chamei o Lavouras e mandei ele procurar o Osvaldo, que cuidava do dinheiro dele (Aécio). Aécio não participou dessa reunião, foi entre mim e o Lavouras. Depois ele me ligou para agradecer, eu mandei dar R$ 1,5 milhão para ele desse dinheiro; mandei também dar R$ 1,5 milhão da OAS para ele; e também R$ 1,5 milhão para o Jorge Picciani”.

LIGAÇÃO DE JORGE PICCIANI COM MT

Em Mato Grosso, Jorge Picciani trabalhou como auditor fiscal nos anos 1980 na Secretaria Estadual de Fazenda (Sefaz). Consultas feitas pelo FOLHAMAX ao Diário Oficial do Estado apontam que entre os anos de 1985 e 1989, Jorge Picciani chegou a ser investigado em inquérito administrativo instaurado pela Sefaz por faltas administrativas com graves prejuízos para a Fazenda Pública do Estado. Houve, inclusive, abertura de inquérito policial e afastamento de Picciani das funções de fiscal da Sefaz. Uma portaria de 89 também aponta que houve abertura de Comissão de Inquérito Administrativo para investigar o abandono de trabalho por parte de Jorge Picciani.

Em reportagem publicada em 10 de janeiro de 2016, o Estadão revelou que a família Picciani tinha fazendas em Mato Grosso, Rio de Janeiro e Minas Gerais, reunidas na empresa Agrobilara, referência no melhoramento genético das raças nelore e gir leiteiro. De acordo com a publicação, naquela época, as ações do conglomerado representavam a principal valorização do patrimônio – de 2006 a 2014, e registrou crescimento de quase seis vezes, saindo de R$ 6,5 milhões para mais de R$ 24 milhões.

Conforme uma reportagem publicada em 12 de setembro de 2018 pelo site “De Olho nos Ruralistas”, a família possui milhares de hectares de terras em Mato Grosso. Relata que a Agrocom, sociedade entre Felipe Picciani (filho de Jorge Picciani) e uma coordenadora da Secretaria de Estado do Meio Ambiente, declarou uma fazenda em Santa Cruz do Xingu por 6.252 hectares. Outra fazenda, a Karajás, em São Félix do Araguaia, já foi declarada por 9.974 hectares por Jorge Picciani e pertencia à Agropecuária Vale do Suiá (Agrovas), englobada depois pela Agrobilara.

A publicação destaca que a empesa Agrobilara detém terras em São Félix do Araguaia, onde explora o patrimônio genético de cinco vacas premiadas.

Desde 2018, conforme reportagem do jornal “O Globo”, promotores do Ministério Público do Rio de Janeiro já anunciavam uma série de frentes investigativas abertas para apurar o envolvimento das fazendas de Picciani com esquemas de lavagem de dinheiro. De acordo com os promotores, o que se constatava até àquele momento nas investigações, em meados de fevereiro de 2018, “ainda em curso em duas diversas frentes”, que sociedades empresariais como a Agrobilara e a Agrocopa, outra empresa da família Picciani, “mantêm estrutura constante e habitual para a ocultação de bens e verbas ilícitas, por meio de operações de compras e vendas de gado e afins”.

 

 
 
 
 
 
 
 
 
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