Integrante da família Campos, que há décadas tem Várzea Grande como “reduto eleitoral”, o ex-governador e ex-prefeito Júlio Campos (DEM), afirma que 90% da população várzea-grandense defende a conclusão do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), obra lançada para a Copa do Mundo e que está paralisada desde o final de 2014 após consumir R$ 1,1 bilhão sem qualquer perspectiva de ser retomada e concluída. Ele mandou um recado direto ao correligionário Mauro Mendes, que assumiu o governo de Mato Grosso em janeiro deste ano.
O governador vem sinalizando que não pretende retomar a obra iniciada na gestão Silval Barbosa e que permaneceu parada durante os quatro anos do governo Pedro Taques (PSDB). “Nós várzea-grandenses queremos que termine o VLT, 90% da população de Várzea Grande é contra qualquer mudança”, afirmou Júlio Campos durante entrevista ao Jornal do Meio Dia da TV Vila Real na última terça-feira (15).
Embora esteja judicializada com ações em andamento na Justiça Estadual e Federal por suspeita de fraudes na licitação lançada em 2012, a obra do VLT nunca esteve entre as prioridades do ex-governador Pedro Taques. O tucano, ao assumir o Governo em janeiro de 2015, determinou realização de auditorias, mediações, mas não adotou qualquer medida para levar a obra adiante.
Júlio Campos avalia que tal decisão foi um dos motivos da histórica derrota de Taques ao buscar a reeleição em 2018. “Pra mim, foi um grave erro do Pedro Taques, uma das consequências da derrota dele como governador foi não ter concluído o VLT, ter abandonado. Porque se ele tivesse, com toda a dificuldade, se tivesse todo mês dedicado R$ 10 milhões ou R$ 15 milhões pra concluir essa obra, já estava concluída, inaugurada e funcionando”, opinou o democrata.
No mês passado, também em entrevista à TV Vila Real, o governador Mauro Mendes praticamente descartou a implantação do modal e admitiu que avalia trocar o VLT pelo o BRT (Bus Rapid Transport) que são linhas de ônibus de trânsito rápido. Ele revelou que pretende procurar pesquisadores da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) que possui um estudo demonstrando que o sistema de transporte é mais eficiente, viável e barato para a região Metropolitana de Cuiabá do que o VLT.
Sobre essa possibilidade Júlio Campos é contra, pois segundo ele, trata-se de algum grupo empresarial querendo convencer o governador para defender interesses próprios e não da população de Várzea Grande e Cuiabá.
“Hoje tem muita gente dizendo que fica caro terminar o VLT. Mas veja bem é muito mais caro se não terminar essa grande obra. O Mauro Mendes tem que ter a consciência de que ele não pode ir na conversa fiada de certas pessoas que querem mudar o sistema”, argumenta o democrata.
Para ele, o VLT já é uma realidade e os moradores de Várzea Grande não podem ficar no prejuízo. “Berlim está agora investindo 8 bilhões de dólares num sistema de transporte urbano. Cuiabá com pouco mais de 50 milhões de dólares, nem isso, terminará o VLT. São cerca de 30 quilômetros servindo não só Cuiabá e Várzea Grande, mas também o centro de Cuiabá e o Coxipó”, pontua o político.
Por fim, Júlio Campos argumenta que a obra precisa ser prioritária e depois de concluída vai dar outro visual e melhorar o meio ambiente por não consumir diesel, combustível utilizado no BRT e que seria mais prejudicial. “Várzea Grande exige, pede a complacência do governo estadual, do governo federal, do Ministério Público, da Justiça. A conclusão do VLT seria um grande presente não só pra Cuiabá como principalmente pra Várzea Grande”.
VG FERIDA DE MORTE
Sobre as obras paralisadas em Várzea Grande até Cuiabá que alterou o trânsito e a rotina de alguns estabelecimentos comerciais ao longo da Avenida da FEB, o ex-governador também lamenta e por isso defende a conclusão do modal.
“O VLT tem uma grande parte já concluída. Feriu de morte Várzea Grande e prejudicou o comércio. Muito empresário quebrou, muita gente já perdeu a vida naquele trecho. Do Aeroporto Marechal Rondon até a ponte Júlio Müller nós somos um pouco mais adiantado nas obras”, argumenta Júlio Campos.
A OBRA
Pelo projeto inicial, o VLT teria duas linhas de trilhos com 22 quilômetros de extensão. Uma delas ligando o Aeroporto Marechal Rondon em Várzea Grande à região do CPA em Cuiabá cortando todo o centro da Capital. A outra linha devia começar na região do Coxipó e seguir até ao centro de Cuiabá.
A obra foi contratada pelo valor de R$ 1,477 bilhão em 2012 e paralisada no final de 2014, ainda no governo Silval Barbosa após consumir R$ 1,1 bilhão na compra de trilhos e 42 vagões e sistema de controle do modal. Embora controversas, existem projeções de que para ser concluída precisaria de pelo menos mais R$ 1 bilhão, dinheiro que Mauro Mendes afirma que o Estado não tem em caixa.