A revista Carta Capital desta semana traz reportagem sobre propriedades da família do procurador da República Deltan Dallagnol em Mato Grosso. As fazendas ficam em Nova Bandeirantes (a 980 km de Cuiabá) e foram adquiridas durante a ditadura militar. O enredo ainda inclui a participação em conflitos de terra, desmatamento, loteamentos ilegais e o pagamento de indenizações milionárias por desapropriações pelo Incra em dezembro de 2016, durante o governo de Michel Temer (MDB). As informações foram divulgadas pelo Diário do Centro do Mundo.
Segundo a reportagem, no início da década de 1980, Sabino Dallagnol, avô de Deltan, e os filhos adquiriram terras em Nova Bandeirantes. Naquele período, gaúchos e paranaenses foram estimulados a adquirir grandes extensões de terras na Amazônia Legal com preços módicos dentro da política de colonização promovida pela ditadura.
PUBLICIDADE
Os pais de Deltan - Agenor e Vilse Salete Martinazzo Dallagnol - adquiriram terras em Nova Bandeirantes, mas continuaram no Paraná. Outros irmãos de Agenor, como Xavier Leonidas e Leonar, mudaram para o município onde vivem até hoje. O avô Sabino tornou-se nome de rua na cidade, endereço de uma corretora de imóveis da família.
Formado em Direito, assim como Agenor e depois Deltan, Xavier tornou-se o advogado dos negócios da família em Mato Grosso. Ele tem um escritório em Cuiabá, do qual é sócia a filha Ninagin Prestes, também advogada. Os filhos também se tornaram donos de terras na região e protagonizam disputas envolvendo o Incra.
A gleba Japuranã
De acordo com a reportagem, a gleba Japuranã, em Nova Bandeirantes, é uma das regiões onde os Dallagnol têm terras. A família e outros proprietários ofereceram uma parte da área ao Incra, para receber sem-terra em regime de comodato, em meados dos anos 1990. Desde então, junto com outros proprietários, brigam na Justiça por indenização.
A pendência judicial também emperra a situação de quem vive nos 67 mil hectares da gleba. Atualmente, 425 famílias ainda lutam pela regularização de seus terrenos, cerca de metade dos moradores do local. Em dezembro de 2016, no primeiro ano do Governo Temer, Ninagin Dallagnol , a prima de Deltan, recebeu R$ 17 milhões como indenização pela desapropriação de suas terras.
A indenização para Belchior Prestes, o irmão de Ninagin, foi de R$ 9,5 milhões. A mãe dos filhos de Xavier, Maria das Graças Prestes, recebeu um valor mais modesto, R$ 1,6 milhão. O próprio pai de Deltan, Agenor, foi indenizado na mesma liberação. Recebeu R$ 8,8 milhões. No total, foram R$ 36,9 milhões pagos à família do chefe da Força Tarefa da Lava Jato.
Crimes
Xavier e o irmão Leonar, conhecido Tenente, tios de Deltan, foram alvo de um inquérito em Nova Monte Verde, município próximo de Nova Bandeirantes, por loteamento ilegal de terras. Os dois foram beneficiados pela prescrição. Tenente chegou a receber o título de cidadão honorário de Nova Bandeirantes, oferecido pela Câmara Municipal diante de sua “bravura” e da condição de “ilustre colonizador” e “grande desbravador”. Tenente já foi acusado de invadir terras de outros proprietários no município, ao lado de personagens conhecidos como Laerte de Tal, Pedro Doido e Nego Polaco.
Os dois irmãos, Xavier e Tenente, ainda foram flagrados por desmatamento irregular. Tenente assinou um termo de ajustamento de conduta com o Ministério Público Estadual (MPE) por degradação do meio ambiente em 2010. Xavier e a mulher, Maria das Graças, foram autuados pelo Ibama por desmatamento ilegal, ambos em 2017.
Como advogados, Xavier e a filha Ninagin atuam na defesa de grandes proprietários rurais envolvidos em grilagem, desmatamento e até trabalho escravo. “De Olho nos Ruralistas” contará essas e outras histórias nos próximos dias, em uma série sobre a família – em suas conexões com os temas agrários. As reportagens serão divulgadas, em primeira mão, no site de CartaCapital.
Deltan Dallagnol não quis se manifestar sobre o assunto, segundo a assessoria de imprensa do Ministério Público Federal (MPF) no Paraná. Xavier Dallagnol, principal pivô das disputas em Mato Grosso, foi procurado em seu escritório, mas não atendeu aos pedidos de esclarecimento até o fechamento da edição de Carta Capital.