Não durmo, diz avó de jovem ex-morador de Jangada que teria sido assassinado por PMs em Rosário Oeste
Em Rosário Oeste, uma família cobra a localização do corpo de Ronaldo Vargas da Cunha, de 25 anos, que foi assassinado no final do ano passado e até hoje não houve nem velório e nem enterro. Os suspeitos de terem o cometido o crime são três policiais militares que foram presos e indiciados por homicídio e ocultação de cadáver.
Ronaldo desapareceu no dia 13 de dezembro do ano passado. Os três meses sem o neto são um sofrimento para Ana Maria da Silva. “De noite eu não durmo. Eu fico até 11 horas da noite, quieta. Dá a impressão que ele está chegando aí”, disse.
Segundo ela, o neto estava recebendo ameaças de um policial. “Sempre ele falava: 'vó, fulano está me ameaçando'. [Eu dizia] 'Não vai, Naldo, na rua, não anda mais de noite. Ele vai pegar você'. 'Não estou fazendo nada de errado, vó'. 'Não interessa, filho, ele já está ameaçando, ele vai te pegar'”, contou a idosa.
A família denunciou e fez buscas sem sucesso. “Andamos dois dias procurando, debaixo de sol e chuva, por conta nossa mesmo, no meio do mato, fomos até em Nobres, no rio Cuiabá”, disse Anadir Honória da Silva, tia de Ronaldo.
As investigações apontaram que, no caminho para a casa da avó, Ronaldo teria sido abordado por uma viatura policial. Testemunhas chegaram a fotografar a bicicleta do rapaz que desapareceu.
“Os vizinhos escutaram a batida do tampão da viatura que levou ele para lá para a direção da rodovia. Até 4h30 da manhã a bicicleta ficou nesse local e nunca mais a gente teve notícia do Ronaldo”, disse Rosane Vargas, tia de Ronaldo.
A Polícia Civil concluiu o inquérito na semana passada. Um sargento e dois soldados da Polícia Militar foram presos suspeitos de homicídio e ocultação de cadáver. Mas, a principal pergunta da família continua sem resposta: o corpo ainda não foi encontrado.
“Eu só aceito depois que eu vir. Falar que esse aqui é ele. Aí eu posso voltar a comer, posso voltar a ser quem eu era. Mas enquanto eu não vir, não tenho vida mais”, disse dona Ana Maria.
De acordo com a Corregedoria da PM, os policiais já estavam afastados das atividades operacionais desde a denúncia e a abertura do procedimento. Agora, eles estão à disposição da Justiça.