Fávaro diz que evitou romper com Taques antes para não desestabilizar MT: "sinto decepção"

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Segunda, 30 Abril 2018 | OlharDireo
Para quem acompanha os meandros da política mato-grossense, o anúncio do rompimento definitivo entre o ex-vice-governador Carlos Fávaro (PSD) e o governador Pedro Taques (PSDB) não foi lá grande surpresa. Há exatamente um ano, Olhar Direto noticiava a possibilidade de os dois estarem em palanques opostos nas eleições de 2018. Na época, ambos negavam com veemência qualquer desgaste.
 
Nesta semana, momentos antes de divulgar manifestação pública contrária ao projeto de reeleição de Pedro Taques, Fávaro conversou com a nossa reportagem e explicou o que o levou a abandonar o barco do tucano. Entre as razões elencadas, a falta de consenso entre os dois, segundo Fávaro, foi primordial para que ele tomasse a decisão de passar a ser oposição ao Governo que fazia parte.
“Primeiro, eu sinto uma decepção no coração, falo isso com muita tristeza. Isso não é nenhum motivo de orgulho, de comemoração”, iniciou Carlos Fávaro, garantindo que lamenta a situação ter chegado a este ponto.

Fávaro recebeu a equipe do Olhar Direto na sede do PSD, local que há um mês havia sido palco do comunicado, feito pelo próprio empresário – à época ainda vice-governador –, de que o partido iria colocar os cargos que possuía na gestão à disposição do governador Pedro Taques.

“Colaborei de forma institucional, cumpri meu papel, tenho sentimento de dever cumprido como vice-governador. Eu divergi por diversas vezes sobre a gestão. Aí você me pergunta: por que só agora você vem falar sobre isso ao público? Imagine um vice começar a gestão e qualquer divergência que achasse fosse para a imprensa falar que o governador estava fazendo errado. Eu desestabilizaria o Governo. Eu divergia, mas internamente, e o Pedro sabe bem disso”, continuou.

Pré-candidato à senatoria, o social democrata falou também sobre suas propostas e afirmou que deseja, a partir de agora, imprimir sua própria identidade, caso eleito. Considerado um dos principais nomes do agronegócio na atualidade, o empresário defendeu mudanças na Lei Kandir e cobrou que o Fethab – segundo ele um dos principais motivos de divergência com o governador – seja utilizado conforme manda a Constituição.

A entrevista foi realizada na última terça-feira (24), dois dias antes de Fávaro anunciar sua entrada definitiva no bloco de oposição, em um acordo para apoiar o pré-candidato ao Governo Wellington Fagundes (PR).

Veja a íntegra da entrevista:

OD – O senhor entregou o cargo de vice-governador garantindo que seu relacionamento com Pedro Taques seguia amistoso. Agora, o senhor está divulgando um manifesto assinado em conjunto com ex-aliados do governador selando definitivamente um rompimento. Afinal, o que os afastou?

Primeiro, eu sinto uma decepção no coração, falo isso com muita tristeza. Isso não é nenhum motivo de orgulho, de comemoração. Eu que sou novo na política, é minha primeira experiência num cargo eletivo, sei da minha responsabilidade, para que fui eleito e como deveria agir enquanto vice.

Colaborei de forma institucional, cumpri meu papel, tenho sentimento de dever cumprido como vice-governador. Atendemos mais de 12 mil pessoas na vice-governadoria, demos encaminhamentos e buscamos soluções para os problemas dos mato-grossenses. Eu divergi por diversas vezes sobre a gestão.

Aí você me pergunta: ‘por que só agora você vem falar sobre isso ao público?’ Imagine um vice começar a gestão e qualquer divergência que achasse fosse para a imprensa falar que o governador estava fazendo errado. Eu desestabilizaria o Governo e aí chegava num momento desses, um Governo em dificuldades, iam dizer: ‘mas também, desde o começo aquele vice vinha atrapalhando a boa gestão’.

Eu divergia, mas internamente, e o Pedro sabe bem disso. Em vários setores. Quando eu via o Governo tomando determinadas atitudes que eu sentia, com a minha experiência de empresário, que não ia dar certo, eu falava para o Pedro, pedia cautela, pedia para ele segurar algumas coisas, ter cuidado com outras. Mas eu não era ouvido.

Eu tinha que conduzir dessa forma até o prazo constitucional da descompatibilização. Aí eu busquei uma independência, para fazer do meu jeito, para expor as minhas ideias, de como eu imagino que esse Estado pode ser tocado, como o Brasil pode voltar para os trilhos.

Então, não é com comemoração, é com tristeza. Mas também com convicção que esse Estado tem solução e tenho certeza que vai ficar um Estado melhor a partir de um novo projeto.

OD – Nesse manifesto os senhores citam “escândalos e fortes indícios de corrupção”, elencando entre outros fatos a ‘Grampolândia Pantaneira’. Desde que o escândalo surgiu, existem rumores de que assessores próximos ao senhor teriam sido grampeados, inclusive o senhor teria sido vítima. O senhor sabe de algo nesse sentido, acompanha as investigações? Acredita que o governador tem relação direta, sabia ou foi beneficiado com o esquema?

Eu ouvi boatos, mas nunca fiz uma manifestação, porque não faria uma manifestação tão grave sem poder provar. Portanto, até agora com relação a eu ter sido grampeado, ou minha família e meu assessores, só ouvi boatos. Claro, se comprovado tomarei as devidas providencias, porque é uma corrupção das piores que existe, rouba a liberdade das pessoas.

Eu não posso fazer esse tipo de juízo [suposto envolvimento de Taques], mas a Justiça já mostrou que pessoas muito próximas a ele, do primeiro escalão do Governo, secretários de Estado participaram desse ato terrível de corrupção.

OD – O senhor tem estreitado a relação com o senador Wellington Fagundes, pré-candidato da oposição ao Governo. Esse apoio está fechado? Por que ele não assinou este manifesto?

Essa carta nós fizemos questão de colher assinaturas de quem apoiou a eleição do governador Pedro Taques e não se sente confortável com a reeleição. Wellington Fagundes, Carlos Bezerra, Valtenir Pereira, Lúdio Cabral, eles já eram oposição, já não acreditavam no projeto do Pedro Taques.

Nós apoiamos de uma forma ou de outra a eleição desde 2010 e, principalmente, em 2014. Essa carta é para mostrar que essas pessoas, e eu tenho certeza que outras milhares de pessoas, estão insatisfeitas.

Mas, a partir dela, nós estamos abertos a construir um arco de aliança, um projeto convincente e que melhore a vida das pessoas. Isso inclui o Wellington, o Carlos Bezerra e todos os outros.

OD – Muitas pessoas apontam o senhor como “pivô” da briga entre o Pedro Taques o Otaviano Pivetta. Qual a participação do senhor nessa “rixa” entre os dois? O senhor havia prometido tentar reatar sua relação com o Pivetta, isso aconteceu?

Eu tenho a dizer que nós tivemos divergências sim na eleição em Lucas do Rio Verde, também não foi um momento feliz nem para mim nem para o Pivetta, estarmos em palanques opostos.

Nós somos amigos, mas a política tem desses momentos. Às vezes os grupos precisam fazer um fechamento a contento. Nunca foi no campo pessoal, nunca nos agredimos no campo pessoal. Mas já superamos isso, porque nós estamos trabalhando e construindo um futuro melhor para Mato Grosso.

OD – Como o senhor avalia essa troca de farpas entre os dois?

Eu entendo que devem existir magoas recíprocas, mas o eleitor quer ver propostas, quer ver compromisso, diálogo e eu espero que os debates fiquem no campo das ideias.

OD – Uma das críticas elencadas no manifesto contra a reeleição de Pedro Taques foi o não cumprimento de promessas de campanhas, entre elas as entregas de algumas obras. Nos últimos meses têm-se observado que o Governo aumentou o número de entregas e, o governador justifica que vinha trabalhando nesses projetos nos últimos três anos. O senhor não acha possível que ele consiga cumprir com esses compromissos até o final do ano?

Obras que foram contratadas com recursos deixados pelo Governo passado, obras que foram licitadas e dado ordem de serviço pelo Governo passado.

Eu queria que tivessem obras que ele [Taques] tivesse arrumado o dinheiro, que fosse licitadas e contratadas dentro deste Governo. O que me deixa triste é que praticamente tudo é resquício do Governo passado que só agora estão sendo entregues.

OD – É sabido que o anúncio da independência do PSD com relação ao Governo provocou uma crise interna dentro do partido. Como anda a relação dos “independentes” com os deputados que insistem em ser governistas?

A democracia é isso, só não pode confundir democracia com bagunça. Acabou o caciquismo no PSD, aqui não tem um todo poderoso, manda chuva, alguém que manda e os outros obedecem.

Eu não tenho o direito de chamar uma liderança do partido lá do Araguaia para uma reunião, fazer ele andar mais de mil quilômetros, chegar em Cuiabá e eu comunicá-lo que nós vamos para cá ou para lá.

Eu acho que o Brasil vive outro momento, as pessoas estão mais politizadas, mais independentes, todo mundo pensa mais sobre política. E o Brasil precisa desse envolvimento das pessoas, isso se faz dialogando. Então, o partido ouviu a imensa maioria.

Claro que eu respeito o posicionamento dos deputados que ainda tentam construir uma aproximação com o atual Governo, divergente da imensa maioria dos membros do partido, mas isso não tem que ser definido agora.

Nós temos nomes muito fortes para construir candidaturas a deputado estadual e federal e eu vou apoiar todos eles. É isso que está fechado até agora. A chapa será definida no momento das convenções.

Eu fiz aquilo [emitiu nota liberando os deputados para sair do partido] justamente pra sair do caciquismo, eu não posso amarrar aqui no partido quem está insatisfeito.  Dialogamos, eu sentei com os deputados, e decidimos que vamos focar no projeto do partido. Cada um com suas posições e nós vamos construindo devagar, para anunciar uma decisão final no momento das convenções.

OD – Como fica o apoio do PSD de Mato Grosso, a nível nacional, a partir de agora, com a ruptura com o PSDB no Estado?

Eu participei há uns 20 dias, a convite do Kassab, de um jantar com o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin. Nesse jantar nós fechamos questão com o Geraldo. O apoio do PSD a nível nacional é para o Alckmin. Aqui em Mato Grosso ele terá dois palanques, ele tem a grata oportunidade de estar em dois palanques. Isso é muito natural, o que interessa é que em todos os Estado da federação o Geraldo Alckmin tem palanque para disputar a presidência da República.

OD – O senhor se apresenta como pré-candidato ao Senado, mas seu nome vem sendo ventilado como possível candidato ao Governo desde o ano passado. Agora, com a oficialização do rompimento com Taques, algo muda nos seus planos?

Eu fico feliz com a lembrança, muito me honra isso, mas eu tenho um compromisso com o meu partido de pleitear uma candidatura ao Senado.

Internamente isso está 100% decidido, agora eu tenho que convencer os outros grupos políticos e, depois, a população que é quem vota. É um passo a passo. A minha construção e ao que estou me dedicando é a uma candidatura ao Senado Federal.

OD – O primeiro cargo público ocupado pelo senhor foi a vice-governadoria, da qual o senhor renunciou sob a justificativa de que queria “imprimir sua identidade”. Agora, o senhor busca uma cadeira no Senado Federal. Como pretende discutir os temas que são relativos ao Legislativo?

Eu acho que o Brasil não pode ficar sendo chamado de país do futuro, o momento é esse. O Brasil viveu um tempo de ser passado a limpo, pela Operação Lava-Jato, mas não é só isso que precisa acontecer, precisa se modernizar.

O Paraguai que era considerado o país do contrabando e da falsificação, se modernizou nos últimos dez anos. Hoje a energia elétrica do Paraguai é a metade do preço da energia elétrica no Brasil e é produzida numa usina bi-nacional, Brasil-Paraguai. A gasolina no Paraguai é basicamente produzida pela Petrobrás e é menos da metade do preço aqui. A carga tributária no Paraguai é de 1% do faturamento da exportação e 10% interna, e nada mais.

O encargo trabalhista no Paraguai é da ordem de 30% do salário, aqui no Brasil é de 100%. O que significa que aqui você contrata um trabalhador, paga R$ 1 mil, mas ele custa R$ 2 mil para a empresa, o que impede o trabalhador de ser mais competitivo e o que impede dele poder pagar mais para o trabalhador.

Quem fez esse papel lá no Paraguai foi o Congresso. Vontade política do Executivo, mas o Congresso aprovou essa legislação. Com isso, mais de 70% das empresas que estão situadas no Paraguai são empresas brasileiras, que foram para lá para ganhar competitividade. E sabe para que? Para vender para os brasileiros do lado de cá da fronteira. O emprego fica lá, a riqueza fica lá e o comprador está aqui. Tem que trazer isso de volta. Tem que deixar de ser o país do futuro e ser o país do agora. O Senado tem papel nisso.

O presidente Temer até propôs a Reforma Previdenciária, quem não quis encarar foi o Congresso. Eu vou ser combativo, eu vou ter posição. E não é tirar o direito da professora que ganha R$ 2.500 de aposentadoria depois de 20 anos de trabalho, é nos super-salários, é a filha de um cartorário que não casa no civil para não deixar de receber a aposentadoria do pai. Nada contra essas pessoas, mas se quiserem ter uma boa aposentadoria paguem uma previdência privada.  Se não fizermos essa Reforma Previdenciária, essa professora no futuro é quem vai ficar sem aposentadoria.

Então, eu faço compromisso com os eleitores mato-grossenses: serei um senador que vou trabalhar pela Reforma Previdenciária justa e eficiente. Vou trabalhar pela Reforma Tributária justa e eficiente, sem ser irresponsável. Eu não vou dizer que vou trabalhar pela Reforma Tributária sabendo da crise econômica que o Governo vive, mas só de simplificar o emaranhado das leis tributárias, já é um grande avanço, já reduz custos.

OD – O governador Pedro Taques prometeu que enviaria uma proposta de Reforma Tributária para a Assembleia Legislativa. O senhor participou da construção desse documento? Acredita que ele será enviado ainda nesta gestão?

Ele [Taques] já anunciou em 2016. Tomara que faça. Não tive acesso ao documento, mas posso lhe dizer que em 2016 ele contratou a Fundação Getúlio Vargas (FGV), estudou, estudou, ia apresentar amanhã, mês que vem, no outro, o presidente Botelho chegou a cobrar publicamente que entregasse para a Assembleia votar, mas não entregou até hoje. Depois vem com uma nova Reforma Tributária, Fundo de Estabilização, desde janeiro está estudando e o tempo está passando.

OD – Caso o senhor seja eleito, como pretende se posicionar com relação à proposta de mudanças na Lei Complementar 87/1996, a Lei Kandir?

Ninguém ganha competitividade no mercado internacional exportando imposto. A lei Kandir é muito importante, a partir dela o Brasil se consolidou como um dos maiores players mundiais na exportação de alimentos. As exportações brasileiras cresceram de forma gigantesca. Agora, não pode acontecer de o Governo Federal fazer uma estratégia econômica em detrimento dos estados e municípios. Quem pagou a conta foram os estados e municípios que perderam ICMS.

A Lei Kandir precisa ser atualizada, não dá para o Governo Federal fazer boa vontade com o chapéu alheio. O país tem que melhorar a balança comercial, ganhar competitividade, mas quem tem que fazer isso é o Governo Federal.

Por isso, se eu for eleito, eu vou trabalhar muito forte para revisar a Lei Kandir, para que a restituição seja aumentada e os municípios não percam tanto como estão perdendo.

OD – No ano passado, quando o Governo propôs utilizar recursos do Fethab para pagar dívidas da Saúde, o senhor foi contra. Agora, a Assembleia Legislativa investiga um suposto uso indevido dos recursos do Fundo. Até pouco tempo o senhor fazia parte do Executivo, afinal, houve ou não desvio de finalidade?

O Fethab tem que cumprir com seu dever constitucional, foi feito para fazer infra-instrutora e assim tem que ser. Esse é um dos pontos divergentes que tive com o governador Pedro Taques.

Nós ganhamos a eleição dizendo que íamos combater o desvio de finalidade no Fethab, porque o Governo passado fez obras da Copa e deixou de cumprir sua função. Eu não estou dizendo que sou contra as obras da Copa, eu não sou contra atender a saúde, eu não sou contra fazer programas sociais, isso é papel do Governo, mas não com o Fethab.

O Fethab foi criado, aprovado no Governo Dante de Oliveira, para fazer infra-estrutura. E não é só para transportar soja, boi, algodão, fazer estrada é trazer dignidade. É a oportunidade de um filho de um pequeno município fazer faculdade num pólo educacional, sair e voltar de casa com segurança. É a oportunidade de uma ambulância salvar um doente.

O Estado tem 25 mil quilômetros de rodovias estaduais sem pavimento, 2 mil pontes para serem construídas e não tem verba para tudo isso, o Fethab tem essa função e por isso eu trabalhei muito para dobrar o Fethab e ajudei a convencer os produtores a pagar isso, porque o agronegócio tem condições de contribuir para isso acontecer. Eu me envergonho disso, porque eu pus a minha credibilidade em cheque junto dos produtores.

Não é fazer estrada para produtor, é fazer estrada para toda a população. Pegar Fethab para pagar custeio é inadmissível e eu não vou perder a minha identidade, porque eu fui atrás e protocolei ação como presidente da Aprosoja, quando o Silval desviou a finalidade do Fethab. E agora, porque eu fiz parte do Governo e ele desvia finalidade, eu não posso concordar.

Eu acho que os deputados têm que cumprir o seu papel de fiscalizar o Governo. É claro que houve [desvio]. Eu não acredito, eu tenho certeza do que estou falando e eu não admito isso.

 

 
 
 
 
 
 
 
 
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