Disputa em MT tende a provocar maior racha político do agronegócio em três décadas
Desde que o saudoso senador Jonas Pinheiro (in memorian) começou a desbravar os sítios, fazendas e assentamentos de Mato Grosso, nos idos de 1982, os eleitores “da porteira pra dentro” sempre demonstram uma unidade invejável, em período eleitoral. Contudo, a disputa pelo governo de Mato Grosso e Senado da República, em 2018, tende a marcar o maior racha político das últimas três décadas do segmento que ficou conhecido como agronegócio.
Sem a liderança do ministro da Agricultura e Pecuária, senador licenciado Blairo Maggi (PP), que decidiu se aposentar da vida pública, e fracionado em grupos, o setor corre o risco de se dividir demais, lançar vários nomes e não eleger ninguém.
Em tese, a agropecuária possui um pré-candidato ao governo de Mato Grosso: Otaviano Pivetta (PDT), que acaba de ver seu nome crescer com a desistência oficializada pelo ex-prefeito Dilceu Rossato (PSL), de Sorriso. E três prdofutores também são pré-candidatos ao Senado: o deputado federal Adilton Sachetti (PRB), o ex-vice-governador Carlos Fávaro (PSD) e o ex-vereador Roberto Barra (PSDB), atual Democracia Cristã. Isso sem esquecer do deputado federal Nilson Leitão (PSDB), pré-candidato pelo grupo situacionista, um dos principais líderes da bancada ruralista no Congresso, ex-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) e que no ano passado foi premiado como destaque político do CNA Agro 2017, por conta do trabalho em defesa do setor produtivo.
Jonas Pinheiro possuía o dom de acabar com as desavenças internas do agronegócio. E foi ele quem arrastou Blairo para a vida pública, em 1994, colocando-o como primeiro suplente em sua chapa ao Senado. Pelo menos cinco nomes esperavam compor a chapa e, na época, o mais cotado era o produtor rural André Maggi, pai de Blairo e tio de Eraí Maggi, atual rei da soja.
Em poucos dias e com reuniões pragmáticas, sob a batuta de Jonas, Blairo virou suplente e, no decorrer do mandato, assumiu uma cadeira no Senado. Depois, em 2002 e 2006, se elegeu governador de Mato Grosso.
E é justamente a ausência do líder que ouve muito e fala na hora certa, como Jonas, que tanta falta faz para agronegócio, na atualidade. Blairo Maggi é um líder nacional e possui força ao estilo arrasa quarteirão em Mato Grosso, mas não tem paciência nem tempo para as intermináveis reuniões em que seria obrigado a ouvir a maioria do segmento.
Há tempos ele não é mais somente de Mato Grosso. É Blairo Maggi, do Brasil. Mato Grosso é apenas sua residência e o quartel general do conglomerado empresarial da sua família. Poderia ser São Paulo ou Curitiba. Ou uma metrópole do exterior.
Quando anunciou sua decisão de ‘pendurar as urnas’, Maggi deixou como única janela a possibilidade de apoiar o seu compadre Adilton, para o Senado. E, ainda assim, não será o apoio ostensivo esperado pelos eleitores e, principalmente, por Sachetti.
A tendência é de que seja um apoio declarado de Maggi, mas tímido. Sachetti vem encontrando sérias dificuldades para construir sua pré-candidatura e uma declaração do compadre famoso, o ministro da Agricultura, seria de extrama relevância, na reta final da das convenções partidárias, em julho e agosto.
A projeção indica que, se nada for feito, as pré-candidaturas do agronegócio mato-grossense correm sério risco de não demonstrar sequer lampejo da força do passado recente. Rossato teve grandeza recuar, ao reconhecer que não iria emplacar na briga pelo Palácio Paiaguás. Sim, em certas ocasiões, renunciar demonstra mais coragem do que susentar por vaidade um projeto de futuro duvidoso.
Pivetta, Fávaro, Sachetti e Barra têm a árdua missão falarem a mesma língua, num momento em que cada qual olha para o próprio umbigo. O afunilamento vai dizer “quem tem garrafas vazias para vender”.