Bezerra diz que Bolsonaro é chamado de Dilma de calças e teme reflexos negativos
Em menos de 100 dias de governo, Jair Bolsonaro (PSL) já está sendo conhecido em Brasília como “Dilma de calças”. Isso porque as sucessivas crises do presidente são consideradas viras demonstrações da falta de tato político para lidar com as pautas relevantes para conduzir o país a resultados bem sucedidos.
A situação tem demonstrado a falta de habilidade do presidente, o que pode inviabilizar o governo. Foi exatamente isso que aconteceu com Dilma.
Para o deputado Carlos Bezerra (MDB), cacique que acumula experiência de vários mandatos, o que tem pesado na avaliação de Bolsonaro é a má relação com o presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Dilma, por sua vez, entrou em rota de colisão com o então presidente Eduardo Cunha, que está preso. Maia e Cunha tem perfils diferentes. Em comum, o fato de estar à frente de um Poder importante, em momentos diferentes. “É uma relação muito ruim. O desempenho das propostas do governo no Congresso depende desse entendimento, se vai mal, as matérias vão mal”.
Bezerra avalia que outros aspectos têm colaborado para deixar negativa a imagem do "capitão", entre os quais está o fato de existirem muitos ministros despreparados para as funções que ocupam, como tem sido o caso de Ernesto Araújo, das Relações Exteriores, que defende relações diplomáticas pautadas por princípios bíblicos.
“Essa política externa é louca, o Brasil sempre adotou política de respeito à autonomia dos povos. Agora está tomando uma posição de extrema direita. Isso me deixa preocupado com Mato Grosso, se a China der um espirro, nós quebramos. A Arábia Saudita já deixou de comprar aves do Sul, e o setor na região já está uma crise”, alerta Bezerra.
Ainda no quesito relações exteriores, Bolsonaro recentemente demonstrou que seu slogan de campanha que diz “Brasil acima de todos”, não é bem uma verdade, quando está em jogo as relações com os Estados Unidos. Além de doar a base de Alcantara (MA) para Donald Trump, o presidente ofereceu uma série de medidas favoráveis ao EUA, sem praticamente trazer nada em troca. Pelo contrário, um dia seguinte após a visita de Bolsonaro, Trump decreta medidas mais duras para que estrangeiros entrem nos EUA, incluisive os brasileiros. Na contramão, os norte-americanos têm livre acesso ao Brasil, sem precisar de vistos.
Antes mesmo de viajar para os Estados Unidos, Bolsonaro já começou a demonstrar antipatia com países que são hoje a base do mercado consumidor brasileiro, como é a China, com quem Trump, em uma atitude de egocentrismo cortou as relações mercantis em 2018, e agora faz um esforço danado para tentar restabelecer. “O Trump pode se dar ao luxo de fazer loucuras, os EUA são a maior economia do mundo. Aqui no Brasil não podemos fazer o mesmo, somos pobres, precisamos do mercado exterior”, avalia Bezerra.
O deputado critica ainda a ingerência dos filhos de Bolsonaro nos temas de Estado, já que na maioria das crises que o presidente tem protagonizado até agora, seus filhos estão ligados direta ou indiretamente, e quase sempre são responsáveis por “apimentar” as situações com suas postagens raivosas nas redes sociais.
Bolsonaro já vem sentindo os efeitos da falta de habilidade em governabilidade. Nesta terça (26), o primeiro sinal de que o barco começou a entrar à deriva se deu com uma sucessão de derrotas impostas por Maia, com apoio de vários deputados federais. Em um único dia, os parlamentares revisaram a proposta do projeto Anticrime apresentado pelo ministro da Justiça, Sérgio Moro, e excluíram uma série de alterações, focando tão somente nas medidas que dizem respeito ao crime organizado.
Também houve a assinatura de um manifesto dos líderes de 13 partidos que compõem o chamado Centrão, que apoia a Reforma da Previdência, mas não querem a desconstitucionalização da reforma, que garantiria ao presidente fazer qualquer alteração na legislação previdenciária, sem precisar de quórum qualificado do Congresso.
Para encerrar o dia, os parlamentares aprovaram com mais de 400 votos o aumento das emendas impositivas, passando o percentual de 0,6% para 1% da Receita Corrente Líquida da União.