Dedicação, determinação e muito estudo. A rotina da cuiabana Júlia de Paula Silva, de 18 anos, aceita em 15 faculdades nos Estados Unidos, antes mesmo de concluir o Ensino Médio no País, é a de quem quer vencer na vida.
“Fiquei feliz, uma sensação de que todo o esforço valeu a pena. Porque é uma luta, indo tão nova morar em dormitório, em casa de família, passando por todos os perrengues e mais alguns. Foi um momento de muita comemoração”.
Ela se formou na American Heritage School, localizada na Flórida, e a cerimônia aconteceu no último dia 21 de maio.
Com um gesto sutil, mas muito simbólico, a jovem aproveitou o evento para homenagear tanto a família quanto a sua cidade natal.
A cerimônia foi transmitida ao vivo pela plataforma Youtube e os familiares puderam acompanhar em tempo real, mesmo que a distância, mais uma das tantas conquistas da jovem.
Ao ter o nome chamado no palco e ficar frente à plateia, Julia abriu uma folha em formato A4 no qual estava escrito: “Família, formei” e “De Cuiabá pro mundão”. No centro das duas frases estava estampada uma bandeira do Brasil.
“Pensei que era uma forma de mostrar para minha família que eu sentia a falta deles e que pra mim, mesmo a distância, era como se estivessem ali, comemorando comigo a minha vitória”, explicou a jovem.
Apesar de todos os desafios enfrentados desde 2018, quando desembarcou nos EUA, Júlia concluiu os estudos com notas A+, além de ter recebido ao longo dos anos sete honrarias e duas medalhas.
A jovem está matriculada no curso de Psicologia da faculdade pública University of South Flórida (USF), em Tampa. Ela escolheu a instituição avaliando o melhor custo benefício, o rigor acadêmico e as oportunidades oferecidas pela universidade.
Início de um sonho
O sonho em fazer o High School – ensino médio – e uma faculdade norte-americana surgiu ainda na infância. Após com a ida da melhor amiga aos EUA, quando Julia ainda estava no 9° ano, esse desejo só intensificou.
“Fui enchendo ela de perguntas sobre como era, o que ela achava, a estrutura, tudo. Até para ter uma perspectiva mais pessoal em relação a como as coisas funcionavam. Ter uma visão do que era uma brasileira em uma comunidade americana”.
Depois do “questionário”, de concluir o 9° ano no Colégio Notre Dame de Lourdes, em Cuiabá, e de um minucioso planejamento, Júlia realizou seu sonho e desembarcou na Flórida.
Na capital mato-grossense a jovem estudou ainda no Plural Centro Educacional até o 5° ano e do 6° ao 8° no Colégio Maxi.
Uma rotina exaustiva
A jovem morou em dormitórios na escola, em casas de família e no último e decisivo ano com a mãe Euzeni Paiva.
A rotina de Júlia começava bem cedo. Por volta das 5h30 da manhã, ela se organizava para chegar pontualmente às 7h45 na escola.
Na instituição ela ficava até as 15h30 e assim que chegava em casa, era hora de voltar aos estudos. O final dessa rotina exaustiva variava entre as 22h e 0h.
“Eu fazia as coisas da escola, estudava para as provas e ainda tinha serviço comunitário, atividades extracurriculares, clubes, então foi bem puxado. Tinha vezes que eu ficava sem dormir, mas valeu muito a pena”, relembrou.
A escolha do curso
Inspirada pela mãe, servidora do Tribunal de Justiça, a jovem almejava cursar Direito. Seus planos mudaram radicalmente após a pandemia de Covid-19, depois que uma nova opção se apresentou.
“Eu sofri muito na pandemia, tive vários problemas, procurei por psiquiatras. Nisso eu fiquei interessada, pesquisei para entender o que era, porque não se ouvia muito falar sobre o que era a psicologia, e gostei”, explicou a jovem.
A escola em que Julia se formou ofertava disciplinas vistas em cursos universitários. Com isso ela percebeu que não gostava de Direito como pensava, ao passo que se encantou pela Psicologia.
Para ter certeza da escolha, a jovem fez três cursos online relacionados ao tema e, no último ano do ensino médio, fez Psicologia, cujos créditos puderam ser aproveitados na universidade.
“Acredito que fui super bem na prova, então depois de tudo isso eu tive todas as confirmações, e mais algumas extras de que seria a Psicologia”, afirmou a jovem.
“Agradeço muito pelo privilégio de ter tido uma educação que conseguiu me mostrar as opções que eu tinha de carreiras profissionais”, complementou.
Julia garante que enfrentará os novos desafios com o mesmo empenho, imergindo de cabeça nessa nova experiência. Apesar de não ter nada muito definido em longo prazo, ela pretende fazer Psicologia Clínica e explorar os ramos da pesquisa.
“Uma das minhas metas, que eu até escrevi na minha redação da faculdade, era encontrar uma forma de tratamento alternativo para os transtornos mentais. Um que não exija que o paciente fique a vida inteira tomando medicamento”, declarou.