Juiz garante que ex-secretário tinha aval de ex-governadores para operar esquema
Em um dos trechos das 233 páginas da sentença que condenou o ex-secretário de Estado, Eder Moraes, a 69 anos e 3 meses de prisão em regime fechado, o juiz da 5ª Vara Federal de Mato Grosso, Jeferson Schneider, afirma que as investigações conduzidas pela PF (Polícia Federal) e MPF (Ministério Público Federal) no transcorrer da Operação Ararath atestam o conhecimento do ex-governador e atual senador Blairo Maggi (PR) do esquema de lavagem de dinheiro e crimes contra o sistema financeiro nacional que ocorreram durante seu mandato na gestão estadual.
Atualmente, Maggi é um dos investigados no inquérito 3842 que tramita no STF (Supremo Tribunal Federal) por conta do foro por prerrogativa de função na esfera criminal. O relator é o ministro José Dias Toffoli. Nos últimos meses, Maggi, que vai trocar o PR pelo PMDB, tem evitado comentar publicamente as investigações da Operação Ararath que o citam como beneficiário do esquema de lavagem de dinheiro e crimes contra o sistema financeiro nacional.
Em outro trecho, é citado que Silval Barbosa (PMDB), que antes de ser eleito governador foi vice-governador de Blairo Maggi, disse ao recpublicano de que tomaria dinheiro emprestado para atender interesses políticos. “O próprio Silval Barbosa afirmou que o então governador Blairo Maggi tinha conhecimento de que tomaria dinheiro emprestado em alguma factoring, visando atender as necessidades do PMDB”. Na época, Silval contraiu um empréstimo de R$ 4 milhões com o empresário Gércio Marcelino Mendonça Júnior, conhecido como Júnior Mendonça.
A sentença assinala ainda que Silval, a exemplo de Blairo Maggi, conhecia e autorizava Eder Moraes a agir para conduzir operações financeiras fraudulentas, para ter seus interesses atendidos. “Diante das operações fraudulentas (empréstimos e movimentações de contas), valores envolvidos, e detalhes das transações, demonstram de modo palmar que estas foram praticadas com o conhecimento e no interesse de Blairo Borges Maggi (ex-governador do Estado e atual Senador da República), em nome de quem Eder de Moraes Dias supostamente operava. As operações ocorreram, também, com conhecimento e autorização de Silval da Cunha Barbosa”, diz um dos trechos.
Para atender aos interesses do esquema, o presidente do Bic Banco, José Bezerra de Menezes, ordenou ao Superintendente Luiz Carlos Cuzziol, que viesse a atender todas as necessidades financeiras de Eder Moraes. Cuzziol foi condenado a 31 anos de prisão a ser cumprido inicialmente em regime fechado.
Uma das responsabilidades de Cuzziol foi agir para intermediar uma liberação de uma quantia milionária ao ex-deputado estadual José Riva (sem partido), que revela indícios de lavagem de dinheiro. “Luis Carlos Cuzziol anuiu a concessão de empréstimo simulado – também em nome da empresa Comercial Amazônia de Petróleo LTDA – cuja verdadeira finalidade era o “levantamento” da quantia de R$ 3.000.000,00 (três milhões de reais) para o deputado estadual José Geraldo Riva; conforme demonstrado mais adiante, os valores decorrentes dessa transação foram retirados da conta da Amazônia Petróleo mediante transferências para contas de empresas interpostas indicadas pelo citado Deputado Estadual", completa.