Investigação do MPE deve adentrar outros gabinetes e atingir deputados além de Riva
Com a crença de que a cada dia reúnem mais provas para demonstrar a liderança do ex-deputado estadual José Riva, os promotores Marco Aurélio de Castro e Marcos Maciel Munhoz, do Ministério Público Estadual (MPE), afirmam que as investigações passam a focar todos os outros parlamentares beneficiados pelos supostos esquemas criminosos implantados na Assembleia Legislativa de Mato Grosso.
“Está muito claro que esse benefício não se restringiu a José Riva. Essa operação adentrará, se é que já não adentrou, em outros gabinetes”, afirmou Marco Aurélio, chefe do Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco), após uma audiência de instrução da ação penal resultante da Operação Ventríloquo, realizada nesta segunda-feira (23).
Para os representantes do MPE, dois depoimentos desta tarde, em particular, demonstram claros indícios de outros parlamentares receberem dinheiro do esquema de desvio de dinheiro para pagar a dívida de R$ 9,6 milhões da AL com o HSBC e o utilizaram para pagar contas pessoais e empréstimos, enquanto um terceiro revelaria a existência de um “mensalinho” para impedir os parlamentares de afrontar a Mesa Diretora.
Laranjeiras
A arquiteta Ana Paula Aguiar revelou perante a juíza Selma Rosane Arruda, da 7ª Vara Criminal de Cuiabá, ter permitido o deputado estadual Gilmar Fabris (PSD) utilizar sua conta corrente para movimentar dinheiro, já que qualquer quantia na conta dele e da esposa seriam sequestrado para pagar dividas trabalhistas.
Foi nessa conta que ela recebeu parte do dinheiro que deveria ter sido utilizado para pagar o banco HSBC. “Todo dinheiro que caia na minha conta, eu usava para pagar contas pessoas do deputado. Minha conta foi usada por uns seis meses. Eu já pagava as contas dele mesmo, então quando ele pediu para usar minha conta eu deixei. Eu pagava conta de luz, fatura de cartão de crédito, até despesas da fazenda. O que sobrava das contas, eu sacava e devolvia para ele, porque não era meu”, contou a arquiteta.
Ana Paula trabalhou no gabinete de Gilmar Fabris entre 2010 e 2014, com um salário de R$ 6 mil. Nos momentos que ele permaneceu na suplência, ela ficava a serviço da Presidência da Assembleia Legislativa. Era considerada por ele como uma pessoa de confiança por ser irmã do marido da filha de Fabris.
Quem também recebeu parte do dinheiro destinado ao pagamento da dívida da AL com o banco HSBC foi Rodrigo Santiago Frizon, sócio proprietário e diretor da Canal Livre Engenharia. Ele recebeu dois TEDs, um de R$ 69 mil e outro de R$ 172 mil, que supostamente serviram como pagamento de um empréstimo feito a Francisvaldo Mendes Pacheco, funcionário do gabinete de Romoaldo Júnior.
“Conheci o Francisvaldo em um restaurante, durante um jantar. Quem nos apresentou foi o filho do Romoaldo. A partir dai tínhamos uma relação pública. Ele nunca foi a minha casa, mas nos encontramos outras vezes no restaurante. Depois de fazer vários empréstimos, de mil, dois mil, cinquenta mil, até oitenta mil, fiz um de R$ 230 mil”, contou o empresário, que mora e trabalha em Vázea Grande.
Já o ex-deputado estadual Maksuês Leite revelou que recebia mensalmente uma verba de R$ 30 mil, chamada de “verba complementar”, a qual era usada para fins parecidos com o por ele tido como normal de uso da verba indenizatória: Pagar caixões e custear velórios.
“Quando fui eleito, o Riva falou que o Edemar ia conversar comigo sobre a verba para custear o gabinete. Com R$ 12 mil não dá para manter um gabinete, pagar velório, um caixão que alguém pede. Se eu não fizesse isso, as pessoas iam me rasgar na rua. O Edemar repassava R$ 30 mil de verba complementar por mês. Nem sempre vinha. Já recebi em conta, parte em espécie... Mas sempre dele”, contou o ex-deputado estadual.
Contudo, Maksuês afirmou que esse tipo de verba não poderia ser considerada um “mensalinho”, em alusão ao Escândalo do Mensalão, porque ele nunca foi pressionado a votar contra ou a favor do governo para continuar a receber o dinheiro. Ainda assim, ele confirmou que foram 20 anos da mesma gestão na AL, sem os parlamentares terem força para pleitear a presidência.