'Acordei com ligação da PF', diz taxista que transportou ladrões de avião
O taxista Davi Nascimento passou por um susto na última quarta-feira (25), após deixar seu turno de trabalho no ponto que funciona em frente ao Pronto-Socorro do município de Várzea Grande, região metropolitana da capital. Davi foi quem levou para o aeroporto os três suspeitos de roubarem um avião monomotor, que pertence à TV Centro América, de dentro de um hangar no Aeroporto Marechal Rondon, em Várzea Grande.
Cerca de oito horas após fazer a última corrida da madrugada, quando levou os três homens para o aeroporto, ele recebeu uma ligação da Polícia Federal. “Já acordei com a PF me ligando, me perguntando sobre os três homens que eu havia levado para o aeroporto, se eu me lembrava de alguma coisa. Levei um susto muito grande”, relatou.
Ele conta que foi chamado pessoalmente por um dos rapazes investigados pela PF, por volta das 5h, quando estava no ponto de táxi localizado em frente ao Pronto-Socorro de Várzea Grande.
“Um rapaz usando moletom e boné deu uma batidinha no vidro e perguntou se eu estava a fim de fazer uma corrida até o aeroporto. Eu estava trabalhando, já estava no fim do meu turno, então aceitei. Aí ele me disse que só teria que passar para buscar dois amigos no caminho”, relembrou.
Segundo o taxista, ao entrar no carro, o rapaz tentou esconder bem o rosto com o boné e o moletom, alegando que estava sentindo frio. Ao saber que teria que pegar mais dois homens no caminho, o taxista disse que ficou desconfiado de que algo pudesse ser feito com ele.
“Na hora, fiquei meio desconfiado. Aí ele me fez virar em umas ruas, perguntou se meu porta-malas estava vazio, o que me deixou ainda mais preocupado. Ao chegar para buscar os dois amigos dele, que aguardavam na rua, embaixo de uma árvore, percebi que eles estavam com quatro galões de 20 litros cada um, cheios de combustível. Na hora, vi que era combustível de avião, porque já trabalhei no aeroporto e sei que tem uma característica diferente”, afirmou.
Conforme Davi, os outros dois suspeitos – que também usavam roubas de frio e bonés – colocaram os galões no porta-malas, entraram no banco traseiro do carro e ficaram calados durante toda a viagem. Ao chegar no aeroporto, o rapaz que solicitou a corrida pediu a ele para que seguisse para os hangares.
“Ele me pediu para parar em frente ao hangar de uma empresa, ele pagou a corrida e os outros dois pegaram os galões. Vi eles entrando pela porta de um hangar e pensei, naquela hora, que eles eram responsáveis por manutenção ou algo do tipo. Depois que saí de lá, entreguei o carro para o meu chefe e fui para casa dormir. Por volta das 13h, acordei com a PF atrás de mim”, contou.
Furto e queda
Segundo a Polícia Federal, além de furtarem a aeronave, modelo Cessna C210 e prefixo PT-JKX, os ladrões também levaram as câmeras de segurança do hangar. Porém, os suspeitos foram reconhecidos pela PF por câmeras de segurança instaladas no aeroporto, que permitiram aos policiais identificarem o táxi usado por eles para chegarem ao hangar.
Além disso, a polícia descobriu que um dos suspeitos havia se hospedado em um hotel em Cuiabá dois dias antes do furto, onde se encontrou com os comparsas.
Pelo plano de voo, os criminosos seguiriam com a aeronave para Cáceres, a 220 km de Cuiabá, na região de fronteira com a Bolívia. No entanto, o avião caiu em uma fazenda localizada a 30 km de San Javier, na região de Santa Cruz de la Sierra. Na queda, um dos brasileiros chegou a machucar o maxilar, segundo a PF, e os três foram encaminhados para um hospital e, em seguida, para a polícia.
A PF desconfia que o avião seria utilizado, posteriormente, para o tráfico de drogas, uma vez que o modelo roubado é capaz de transportar até 500 kg de entorpecente, conforme o delegado Sérgio Macedo, que investiga o caso.